Co-participantes do sofrimento de Cristo
“...pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo” (1 Pedro 4.13).
Quando Pedro escreveu estas palavras, o fez para um público que corria o risco de constantemente ser perseguido por conta de sua adesão ao evangelho.
O sofrimento é uma realidade na vida de todos aqueles que unem suas vidas à Cristo, ainda que muitos passem de largo desta realidade.
O apóstolo Paulo chegou a dizer que sofrer por Jesus é um dom, uma graça, um presente que é concedido ao fiel: “Porque vos foi dada a graça de padecerdes por Cristo, e não somente o de crer nele” (Filipenses 1.29).
Quando alguém une a sua vida à vida de Cristo, a vida deste passa a tornar-se realidade na vida do seguidor, a ponto de Paulo dizer que não era mais ele que vivia, mas Cristo nele (Gálatas 2.20), daí, os sofrimentos de Cristo passam também a ser o seu próprio sofrimento.
E quais seriam os sofrimentos de Cristo que passam a ser os nossos próprios sofrimentos?
O sofrimento próprio da perseguição por causa do evangelho, da identificação com a causa de Cristo, associado à resistência do mundo (“kosmos”, sistema contrário à Deus) pode ser contado entre as causas de tal sofrimento. O Senhor chegou a dizer: “Se vós fosseis do mundo, o mundo amaria o que é seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso o mundo vos odeia” (João 15.19). Tiago ensinou que “a amizade com o mundo equivale à inimizade contra Deus” (Tiago 4.4). A resistência do mundo causou o sofrimento e a crucificação do nosso Mestre, causando-lhe extremo sofrimento; e tal sofrimento ainda tem ocorrido com milhares de nossos irmãos cristãos sobre a face desta terra. É provável, inclusive, que os cristãos nunca tenham sido tão perseguidos no mundo como são hoje. Se lermos o site da missão “Portas Abertas” veremos a realidade de tais perseguições. Penso que talvez seja um disparate tantas igrejas ensinando o crente como viver melhor nesta vida, enquanto seus irmãos ao redor do mundo padecem tamanhas perseguições.
A resistência das pessoas à acolherem a Palavra da verdade também foi motivo de sofrimento e dor ao nosso mestre. Ele chegou a lamentar sobre Jerusalém por não acolher a verdade: “Jerusalém, Jerusalém! Que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes” (Mateus 23.37). Paulo chegou a afirmar que ele mesmo “desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne (Romanos 9.3). O amor de Paulo era tão grande que ele trocaria a própria salvação pela de seus compatriotas. Assim também a igreja deve chorar por aqueles que não acolhem a verdade. Vivemos, na verdade, uma ambigüidade de sentimentos. Certa vez, quando cheguei ao culto, senti uma grande alegria no Senhor, mas ao mesmo tempo, tristeza por aqueles que rejeitavam a sua mensagem, dentre os quais muitos que eu tinha evangelizado, pois sei que grande parte de seus traumas e conflitos existenciais poderiam ser acolhidos pelo Mestre naquele momento. Somos chamados a sofrer os sofrimentos de Cristo por aqueles que rejeitam sua mensagem, pois rejeitar tal mensagem, é rejeitar a própria pessoa de Cristo, e rejeitar a Cristo, é rejeitar ao próprio Deus. Há um choro dolorido quando pessoas que amamos recusam-se em acolher a palavra da verdade, mas nossa firmeza no evangelho nos impede de nos unirmos a elas, e a separação acaba sendo inevitável.
Há outra dor de Cristo que somos chamados a participar, que é a dor de gerar filhos espirituais. Paulo, quando escreveu aos gálatas para alertá-los contra a heresia judaizante, disse-lhes “meus filhos, por quem de novo sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós” (Gálatas 4.19). É a dor de treinar, discipular pessoas para que, menos delas, e mais de Jesus possa crescer. No caso de Paulo, depois de passar anos ensinando, treinando aqueles crentes, corria o risco agora de ver todo o seu trabalho perdido. E quantos que labutam no evangelho conhecem a realidade de passar horas, às vezes dias, preparando um determinado estudo para alguém, que de repente, não comparece, ou desiste porque foi ver o futebol, foi a uma festinha, etc. Ou outros, que dirigiram reuniões de oração, com baixa freqüência de discípulos, ou mesmo a dor de ser traído por um discípulo seu. Parece que, em algumas vezes, Jesus até chegou a perder a paciência com seus discípulos: “Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? (Marcos 9.19).
Outro sofrimento de Cristo, muito bonito de se comentar foi quando da morte de seu amigo Lázaro (João 11.1-44). É o famoso versículo bíblico em que se diz que “Jesus chorou” (v. 35). É bonito de se ver esta empatia que Cristo tinha com as pessoas a ponto de seu sofrimento ser o seu próprio. Jesus era um homem que, não obstante sua imensa atividade ministerial ainda tinha tempo para ter amigos, e amigos de verdade. Gente pelo qual ele chorava. O ministério não nos pode separar da empatia pelas coisas cotidianas da vida, a ponto de nos tornarmos pessoas de ferro que já não se importam com mais ninguém e com mais nada que não seja nossas atividades. Lázaro era amigo de Cristo, mas ao que tudo indica, não era parte daqueles que caminhavam ministerialmente com o Mestre. Talvez sejamos chamados a nos identificarmos com a dor alheia onde ela se manifestar, a sermos um povo de consoladores. Aprendi que a palavra misericórdia significa “colocar o coração sobre as misérias alheias”.
Há muito ainda que poderíamos meditar acerca dos sofrimentos de Cristo. A rejeição pela sua própria nação e parentes, ser acusado de coisas que não fez, ser rejeitado por aqueles que amou, o cansaço diante de tanto trabalho, a incompreensão de muitos, todos pelos quais nos foi dada a graça por viver também em alguma medida.
E qual o final de tudo isso? Retorno novamente ao versículo inicial: “alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também na revelação de sua glória vos alegreis exultando” (1 Pedro 5.13). Há uma alegria tal que nada pode nos dar, que não a participação na vida do próprio Cristo, e é esta alegria que nos é prometida, já para o tempo presente, se não recuarmos de nossa confissão de fé naquele que deu sua própria vida para nos salvar e perdoar.
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