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Mostrando postagens de 2009

As ambiguidades de Pedro

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O Apóstolo Pedro foi um interessante exemplo de uma constante revisitação de sua própria condição de homem falho e pecador. Entre seus arroubos de grandeza e pequenez, temos diante de nossos olhos umas das mais profundas e interessantes figuras da história do cristianismo. Alguém que teve que conviver com suas próprias falhas do começo ao fim de sua carreira cristã. Como um dos que expressavam a mais natural liderança do colégio apostólico, sempre era o primeiro a manifestar seu interesse em alguma missão, sempre o primeiro a pedir a palavra, como naquela ocasião em que, grandiosamente fez a primeira confissão de que se tem notícia de que Cristo era o Messias, o Filho de Deus. Poucas passagens depois já foi chamado de Satanás, o que prefiguraria talvez a ambiguidade do ministério petrino durante a história do cristanismo... A covardia talvez fosse aquele aspecto sombrio do caráter de Pedro que mais lhe custou a ser trabalhado durante sua jornada cristã. Quando os discípul

"Non enim, quod volo bonum, facio, sed, quod nolo malum, hoc ago."

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"...porque não faço o bem que eu prefiro, mas o mal que não quero, esse faço..." (Romanos 7.19). Algumas pessoas entendem que esta passagem, escrita por Paulo, se trata de um sentimento que o cristão tem logo que se converte, ou que seja uma fase, um "locus", um porto, um momento da vida cristã que fica para trás. Homens grandiosos pensaram desta forma. Por exemplo, John Wesley entendia que quando Paulo escreveu algumas epístolas, ele próprio não estava totalmente santificado. Isto porque, Wesley advogava, baseado na doutrina dos antigos padres, e do que entendia ser a melhor interpretação das Sagradas Escrituras, a doutrina da perfeição cristã, qual seja, a possibilidade do cristão viver sem pecar. Bom. Eu, particularmente, não cheguei a este nível de iluminação. Sinceramente, creio que o lamento (ou gemido) de Paulo é algo que constantemente pode retornar para a nossa vida. Isto pode ser tanto uma posição teológica como uma confissão do meu próprio fracasso pessoa

A mais bela história

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“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós...” (Joãoa 1.14). Ainda estou com a cabeça no Natal. Pois é. E, que me perdoem todas as outras religiões, com suas belas histórias de fundação, mas, sinceramente, não conheço uma história tão bela quanto a do nascimento de nosso Salvador e Senhor. Você consegue imaginar isso? O próprio Filho de Deus, o “Logos” de Deus, o Criador, aquele que fez tudo e por meio de quem tudo se fez, tornou-se uma criança, encarnou-se no ventre de Maria. Olha que história maravilhosa. Sei que muitos não acreditam na encarnação, não acreditam no sobrenatural, não acreditam em Deus. Mas permitam-se meditar, “viajar” até neste maravilhoso relato. Nós dizemos que o Criador, o Rei dos Reis, o Senhor dos Senhores, se tornou um bebê entre nós. Que viveu no ventre de Maria como cada um de nós em sua própria mãe. Que foi um bebê, lindo para os seus pais, que com seus pequenos lábios expressou a mesma fragilidade de qualquer criança, e mamou nos seios de Maria. Acho que f

Melhor é dar do que receber

Não há quem não busque abençoar, que na verdade, não seja muito mais abençoado, afinal, mais bem aventurada coisa é dar do que receber.

Escrituras e Tradição

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Alguns amigos meu evangélicos vivem dizendo que eu tenho um pé no catolicismo. Tudo bem; não tem problema. Ao ler parte do diário de John Wesley, este dizia que constantemente era chamado de "jesuíta" de "papísta", por seus amigos calvinistas. Não que eu seja algo parecido com o santo Wesley; mas já é fonte de consolo saber que ele também teve seus entraves por defender alguns pontos de vista que não batiam com a ortodoxia protestante em vigor. Entretanto, o que quero dizer quando menciono que não se faz teologia, ou não se lê a Bíblia sem a tradição? Quero contrapor uma visão de boa parte de meus amigos protestantes que, firmados em uma falsa noção do que seja "Sola Scriptura" (Somente a Bíblia) afirmam que somente a Bíblia é suficiente para se fazer teologia, ou para se entender todo o processo de formação do próprio cânon bíblico. E porque não é suficiente? Um dos motivos, é pelo simples fato de que, até para saber o modo pelo qual o cânon bíblico foi f

Programação Evangélica no Natal

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É triste constatar que, as principais igrejas evangélicas que se encontram na mídia, pouca ou nenhuma referência fazem ao natal. Já vi, por exemplo, no dia 24 de dezembro, no programa de uma determinada igreja, aquela mesma ladainha da auto ajuda. Passou um clip com gente em seus trabalhos, com cara de preocupado, ao som daquele louvor "O meu Deus, nunca falhará, eu sei que chegará minha vez..."  (Marca da Promessa). Vi também outro programa, no momento da pregação, com uma mensagem, ao que parece, até que edificante, mas sem nenhuma referência ao nascimento de Cristo. E ainda outro, com aqueles programas de testemunho de curas. Ou seja, os programas das igrejas que mais tempo estão nos canais de televisão, mas sem nenhuma referência ao natal. Confesso que não assisti todos os programas inteiros (não tenho paciência para tanto), mas ao que me constou, de modo geral, estas igrejas continuaram fazendo o que sempre fizeram, independente do calendário litúrgico da igreja cr

Fechados no Natal

Muitas igrejas evangélicas, bastante respeitáveis até, não têm realizado nenhuma celebração especial no dia de Natal. Os motivos podem ser dos mais diversos; motivos até mesmo plausíveis. Um pastor, muito amigo meu, de uma igreja histórica, entendeu, junto com sua comunidade, que neste momento, cada um deve ficar com sua própria família, correr atrás dos preparativos, entre outras coisas, e a igreja não deveria ser um outro compromisso em uma agenda já super lotada. Em que pese as interessantes argumentações e os plausíveis motivos, sinceramente não acho esta uma boa estratégia. O protestantismo, há muito tempo, tem sido acusado de promover talvez um dos mais radicais movimentos secularizantes que a história do ocidente já presenciou. Quando deixamos de comemorar o nascimento daquele que proclamamos ser o nosso Senhor e Salvador (ainda que em uma data simbólica), ou seja, o aniversário do nosso Mestre, contribuímos para que os principais símbolos sagrados de nossa sociedade sejam esque

A Igreja Evangélica à Luz do Materialismo Histórico

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Diferenciando-se profundamente da tradição hegeliana para a qual o motor da história era o racional, toda a insistência marxista está no sentido contrário, ou seja, o da afirmação do caráter humano, concreto, ativo, produtivo da existência. Nas condições materiais de vida, e não na consciência ou na evolução geral do espírito humano, reside o fundamento de sua concepção [1] . Segundo a concepção materialista histórica da sociedade, “as relações materiais que os homens estabelecem e o modo como produzem seus meios de vida formam a base de todas as suas relações [2] ”. As idéias, as ideologias, a moral, os sistemas jurídicos e religiosos não possuem uma existência autônoma, como que “vindas do céu”, mas ao contrário da filosofia anterior, fazem parte da superestrutura fundamentada sobre a infraestrutura que representa os modos materiais de existência de vida. Essas relações materiais podem ser chamadas de produção social dos bens, que “engloba dois fatores básicos: as forças produ

Sejam meus imitadores como eu sou de Cristo

"Sede meus imitadores como eu sou de Cristo" (Paulo aos Coríntios, Cap. 11, ver.1) Paulo, quando escreve aos coríntios, exorta seus leitores a que sejam seus imitadores. Ocorre que os cristãos contemporâneos cometem dois atos de abuso em relação a esta passagem. Em primeiro lugar, este versículo é abusado por aqueles que o ignoram completamente. Vocês já devem ter ouvido falar daqueles que ensinam seu povo a dizerem: "não olhe para vida de homens, mas somente para Cristo, somente para Deus"! Certamente não têm mal intenção ao dizerem isso. É que o estado de coisas na igreja está tão ruim, que não é difícil um novo convertido se escandalizar com a vida que muitos têm levado. Aí, abstratamente, dizemos: olhem para Cristo, não olhem para os crentes! Mas ao fazermos isso, ignoramos completamente o sentido do discipulado cristão, visto que Paulo colocava-se, ele mesmo, como paradigma de modelo daquilo que ensinava. Entretanto, há o outro extremo. Há igrejas e movimentos

A difícil questão do divórcio

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“...todo aquele que repudia sua mulher, a não ser por motivo de prostituição, faz com que ela ‘adultere’; e aquele que se casa com a repudiada comete adultério...” Eis aqui um texto claríssimo, porém dificílimo sobre os ensinos de Cristo. Claro, porque é evidente que Jesus ensina que seus maridos não devem repudiar suas mulheres, salvo, segundo pensam alguns, uma exceção, e que desaprova também um novo casamento da repudiada, estendendo a qualidade de adultério até mesmo para aquele que ficar com a repudiada. Mas é dificílimo, pois deste texto, e demais do mesmo tema nas Escrituras, tivemos diversas posições diferentes na história. A primeira, que podemos citar, é a católica romana, no sentido de que o casamento é para todo o sempre. Novo casamento, somente com a morte de um dos conjuges. Uma simples proibição, e não se fala mais nisso. Esta respeitável posição tem o mérito de espelhar de modo mais perfeito o casamento como analogia da relação Cristo e Igreja, que deve ser uma re

Calvinismo e Arminianismo - Perspectivas pessoais 2

O problema da doutrina calvinista, a meu ver, é que, parece criar uma contradição insuperável no próprio ser de Deus, fazendo com que o seu modo de agir não se pareça muito com o quadro geral da revelação exposta nas Escrituras Santas. Aprendemos do profeta Ezequiel, por exemplo, que Deus não tem nenhum prazer na morte do ímpio . Muito pelo contrário, Ele quer que o ímpio se converta (Ezequiel 33.11). Há um incessante apelo da parte de Deus para que todos se arrependam. Fazendo coro com esta antiga tradição profética, também o apóstolo Paulo, ao escrever para Timóteo, ensina que Deus deseja que "todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (I Timóteo 2.4) Há muitas passagens similares, das quais eu não gostaria de cansar o nobre leitor. De qualquer modo, o que eu quero dizer, é que, fica complicado, e, no meu sentir, com uma certa dose de incoerência entender que se Deus quer que todos sejam salvos, escolha somente salvar alguns, sendo, em última

Tem um coração e serás salvo - sobre a oração hesicasta

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" T er um coração não é somente centrar-se numa parte do corpo, é uma certa maneira de ser, de ver, de respirar com o coração. O próprio do coração é tratar todas as coisas fraternalmente por tu, viver não num mundo de objetos, mas num mundo de presenças. A oração hesicasta tem como meta este despertar do coração, esta sensibilidade à presença de Deus em todas as coisas, e esta presença faz de todas as coisas não fenômenos no sentido comum deste termo, mas verdadeiras 'epifanias', manifestações do Deus inacessível. A oração de Gregório de Nazianzo exprime bem este estado do coração despertado quando diz: 'Ó Tu, o Além de Tudo'. "Tu" - sensação de intimidade, de presença, e 'Além de Tudo', sentido de alteridade, da Otridade radical daquele ao qual ele se dirige. O coração reconhece o Desconhecido no próximo, e a proximidade do Além, sentido da Imanência e da Transcendência. "Ter um coração é estar centrado, sair da dispersão do mental

Calvinismo e Arminianismo - perspectivas pessoais - (1)

Estou tendo a grata oportunidade de ministrar a disciplina de Teologia Própria, ou “Uma introdução ao estudo do conhecimento de Deus” em uma nascente instituição teológica da qual muito me orgulho de participar, visto ser um espaço diretamente ligado à igreja (ou a várias igrejas). Trata-se do curso de “Líderes-Servos”, ministrado na Igreja Evangélica Manaim; um curso destinado a pessoas que querem ter um breve preparo teológico para trabalhar em suas próprias comunidades de fé. E como em todo curso ministrado sobre Deus, sua natureza e suas obras, não poderia deixar de faltar o assunto relativo à soberania de Deus e o livre-arbítrio humano; ou seja, a velha discussão “calvinismo X arminianismo” (algum aluno ou aluna sempre acaba tocando neste delicado assunto). Para quem não sabe, muito resumidamente, o calvinismo é aquela doutrina, também dita reformada, que diz respeito à idéia de que o salvo é alguém predestinado por Deus desde os tempos eternos, e que será indubitavelmente salvo.

Até que ponto é preciso crer em dogmas?

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ATÉ QUE PONTO É PRECISO CRER EM DOGMAS? O que precisamos crer, no que realmente precisamos acreditar para sermos bons cristãos/? Antes de iniciar esta reflexão, penso que é importante fazer a seguinte ponderação [1] . Tenho grande respeito pelos dogmas cristãos. Pelo credo apostólicos, pelo niceno-constantinapolitano, pelas Escrituras, pelos símbolos de fé, pelos sacramentos, bela beleza da iconografia dos ortodoxos, pela patrística, pela hinologia reformada, pel pentecostalismo, onde fui formado e criado; enfim, tudo o quanto configure esta fascinante história do cristianismo sobre a face da terra. Tenho grande consideração pelas comunidades evangélicas, uma das quais alegremente pertenço, e que se reúnem ao redor do mundo com tremenda alegria e ardor comunitário, que comunicam sua mensagem ao através, muitas vezes, de comunidades alegres, cantantes, dançantes, etc. Aprecio também a liturgia das chamadas Igrejas Católicas, seja da ala mais modernista, seja da ala mais tradicionalista,

A liberdade da simplicidade

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Acabo de ler mais grande livro do escritor Richard Foster. O renomado autor é, em minha opinião, um dos maiores mestres devocionais do protestantismo evangelical. Isto porque, sem nenhum preconceito, ele cita e trabalha com o pensamento de grandes mestres da vida e da espiritualidade cristã de todas as tendências e de todos os tempos. Cita com desenvoltura tanto cristãos ortodoxos do iníciio da Idade Média, quanto místicos latinos da igreja romana do período posterior, tendo também um grande conhecimento, obviamente, da própria espiritualidade evangélica de períodos posteriores. Nesta obra, Foster irá trabalhar a questão da simplicidade, tanto em sua fundamentação teórica, quanto na sua atividade prática. Defende a questão da simplicidade não somente como uma causa cristã, mas também algo que o planeta e nossa sociedade, principalmente Ocidental, precisa desesperadamente. Que a vida cristã deve ser caracterizada pela simplicidade em todos os seus aspectos, tanto interior, quanto ex

Eunucos pelo Reino de Deus

Lá estava ele, o rapaz, boa gente, educado. Levava sua vida como qualquer outro cidadão deste país. Nem mais, nem menos inteligente que a maioria de nós. Estudioso, trabalhador, etc. Entretanto, muitos o recriminavam por ele ser homossexual. Eu o conheci em uma livraria (frequento muitas livrarias). Papo vai, papo vem, não sei porque cargas d'água, entramos neste assunto e ele me confessou ser homossexual. De cara, já falou que nunca sofrera um trauma realmente sério na vida. Disse-me que sua família era católica fervorosa. Que todas as quartas feiras se reuniam para rezar com alguns amigos. Que seus irmãos (num total de dois) não tinham o mesmo "problema" que ele. Diz que se sentia recriminado. - De onde este pessoal pensa que a gente surge? Será que eles acham que a gente surge do espaço? Ele me compartilhou ainda mais. Me disse que não se sentia mais bem em uma igreja que não o aceitava do jeito que ele era. Mas que não queria ir para estas igrejas evangélicas de past