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Mostrando postagens de dezembro, 2010

Co-participantes do sofrimento de Cristo

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“...pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo” (1 Pedro 4.13). Q uando Pedro escreveu estas palavras, o fez para um público que corria o risco de constantemente ser perseguido por conta de sua adesão ao evangelho. O sofrimento é uma realidade na vida de todos aqueles que unem suas vidas à Cristo, ainda que muitos passem de largo desta realidade.

Lectio Divina

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Por Henri Nouwen T omar a Escritura e lê-la contemplativamente chama-se "lectio divina" ou leitura espiritual. A expressão "lectio divina" vem da tradição beneditina e refere-se principalmente à leitura divina ou sagrada da Bíblia. "Lectio Divina" é a antiga prática monástica de ler a Escritura meditativamente - não para dominar a palavra, não para criticar a palavra, mas para ser dominado e desafiado pela palavra. Significa ler a Bíblia "de joelhos", isto é, com reverência, atenção e profunda convicção de que Deus tem uma palavra única para você, exatamentena situação em que você se encontra. Em suma, leitura espiritual é uma leitura na qual permitimos que a palavra nos leia e nos interprete. A leitura espiritual é uma disciplina de meditação sobre a Palavra de Deus.Meditar significa "deixar a palavra descer da nossa mente para o nosso coração". A meditação significa mastigar a palavra e incorporá-la à nossa vida. É a disciplina pe

Silêncio humilde

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Por Thomas Merton N ão é o falar que rompe nosso silêncio, mas a ansiedade de sermos ouvidos. As palavras do orgulhoso impõem silêncio aos demais, de maneira que só ele possa ser ouvido. O humilde fala somente para que lhe falem. O humilde nada pede senão uma esmola; depois, espera e escuta. Recebemos a Cristo ouvindo a palavra da fé. Trabalhanos na obra da nossa salvação em silêncio e na esperança; mais cedo ou mais tarde, porém, chega a hora em que devemos abertamente confessá-lo diante dos homens e, em seguida, diante de todos os que habitam no céu e na terra. Se nossa vida se derrama em palavras inúteis, jamais ouviremos algo, jamais nos tornaremos algo e, no fim - porque já dissemos tudo antes de termos tido algo a dizer - ficaremos sem fala no momento de nossa maior decisão. (in Na liberdade da solidão, Ed. Vozes, p.71-72) A igreja necessita urgentemente de pessoas que saibam ouvir, pois todo o falar, muitas vezes se parece mais com uma disputa do q

O testemunho de São João Crisóstomo

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U ma das biografias dos santos cristãos que considero mais fascinante é a de João Crisóstomo, que o leitor só terá a ganhar caso faça uma pesquisa sobre ela. Ele é considerado um dos maiores padres da Igreja Oriental pelos cristãos ortodoxos, e Doutor da Igreja, pelo catolicismo romano. E ouso dizer que, pela ênfase que os protestantes dão à pregação, Crisóstomo também deve ser considerado digno de admiração e inspiração, um de seus patriarcas. Crisóstomo significa “boca de ouro”. Ele era de família aristocrática; órfão de pai, foi criado pela mãe que o encaminhou a uma excelente educação. Em sua juventude, João optou pelo batismo cristão, tornando-se um excelente estudante das Sagradas Escrituras, filiando-se à chamada “escola de Antioquia” (foi lá que ele nasceu), que privilegiava mais o sentido literal e histórico das Escrituras; ao contrário da de Alexandria, onde florescia mais o sentido alegórico. Não tardou e foi ordenado leitor, depois diácono (381), presbítero (386)

O padre, segundo João Crisóstomo

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É necessário que a alma do padre bilhe à maneira de uma tocha que ilumina a terra inteira; a nossa está encoberta por tal sombra provenitente de uma má consciência que se encontra incessantemente submersa nela e já não consegue levantar, com confiança, os olhos para o seu mestre. Os padres são o sal da terra; mas quem suportaria facilmente nossa tolice e nossa falta de experiência em todas as coisas, senão vocês que estão habituados a nos amar de maneira exagerada? Com efeito, é necessário não só que ele seja puro para ser julgado digno de tal serviço mas ainda que seja suficientemente precavido e possua uma grande experiência. Deve conhecer as coisas da vida como aqueles que vivem no mundo, embora deva manter-se afastado de todas elas mais do que os monges que se refugiaram nas montanhas. Por viver em companhia dos homens que têm mulher, criam filhos, dispõem de empregados, estão rodeados por grandes riquezas, administram negócios públicos e ocupam posições importantes, é necessário

O discurso de despedida de um stárietz

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M as ainda que ele falasse com clareza e a voz estivesse muito forte, a fala porém, saia muito desconexa. Falou de muita coisa; parecia querer dizer tudo, concluir, no instante da morte, tudo o que deixara por dizer em vida, sem visar unicamente ao ensinamento mas como se ansiasse por dividir sua alegria e seu êxtase com todos e com tudo, desafogar o coração mais uma vez na vida... - Amai uns aos outros, padres... Amai o povo de Deus. Não somos mais santos que os leigos pelo fato de termos vindo para cá e nos enclausurado entre estas paredes mas, ao contrário, cada um veio para cá, já pelo simples fato de ter vindo, conheceu consigo que é pior do que todos os leigos, do que tudo e todos na Terra... E quanto mais o monge viver depois entre suas paredes, mais sensivelmente deverá tomar consciência disto. Porque em caso contrário não teria nenhum motivo para estar aqui. Só quando toma consciência de que não é só pior do que todos os leigos mas é, ainda, culpado perante todos

A glória de Deus em Lázaro

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"Quando, pois, soube que Lázaro estava doente, ainda se demorou dois dias no lugar onde estava" (João 11.6). S empre achei estranho ler estas palavras de Cristo. Isto porque, fico imaginando que, se eu amasse alguém, e soubesse que estava precisando de socorro, correria imediatamente para tentar assistenciá-lo.

O governo cristão e o governo secular

P enso que a maior diferença que pode existir de princípios entre um governo de índole cristã e outro, secular, é o fato de que o primeiro serve o povo, e o segundo, serve-se do povo. Os anabatistas, radicais defensores da separação entre a Igreja e o Estado, diziam que seria impossível um governo ter tal índole, daí não se imiscuirem nos negócios públicos.

Tropeçar no falar II

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"Assim também a língua, pequeno órgão, se gaba de grandes coisas" (Tiago 3.5). H á duas coisas que os seres humanos fazem com frequência, quando falam. Ou falam mal da vida alheia, ou ficam se gabando de coisas que fizeram. Faça esta observação, este teste, e será interessante. Qualquer assunto que se fale, parece que se está sempre disputando para ver quem é melhor em determinada coisa, ou conta o caso mais interessante, ou o acontecimento mais chamativo. As vezes, se disputa até para ver quem sofreu mais, quem teve o maior trauma, a pior doença, enfim. Há, podemos assim dizer, uma certa normalidade nisso. Mas quando alguém exageradamente fica nisso, vai ficando insuportável... E perceba que as pessoas não têm muita paciência, e mal querem saber o que o outro tem a dizer. Querem tão somente um intervalo para falar o que realmente querem. Dificilmente alguém mostra verdadeiramente interesse no outro. Por isso, foi o próprio Tiago que ensinou que "todo homem sej

Tropeçar no falar

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"Se alguém não tropeça no falar é perfeito varão, capaz de refrear também todo o seu corpo" (Tiago 3.2) I nfelizmente somos assim. Tropeçamos no falar, o tempo todo. Quando dois amigos cristãos se reúnem para falar, vão falar do que lhe é mais comum; e infelizmente, muitas vezes o que lhe é comum são as críticas a outros irmãos da sua própria igreja. Damos um ar de espiritualidade, preocupação, mas na verdade, o que queremos mesmo é "desabafar", expor nossa crítica, nosso ponto de vista, enfim. Nestas horas, o que deveríamos fazer mesmo é um jejum de palavras! Daí, talvez, algumas dicas possam ser úteis para evitarmos tais tropeços. Cuidado ao falar de pessoas ausentes . Talvez uma boa regra seja pensar se, o que você está falando de quem está ausente, seria a mesma coisa que diria caso ela estivesse presente. Se for algo que não diria, provavelmente estará pecando. Há um dito de Roger de Taizé que admiro muito, quando ele diz que "o evangelho não nos

Da infabilidade das Escrituras II

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D esde os meus primeiros anos em um seminário, ouvia falar muito mal de Karl Barth. Isto porque, segundo meus mestres, Barth dizia que a Bíblia “contém” a Palavra de Deus, e não que “é” Palavra de Deus. Obviamente, fiquei muito tempo sem ler Barth... Ocorre que, passado um tempo, percebi que é Barth, na verdade, que se mantém fiel ao protestantismo, e não os meus mestres... Isto porque, o mencionado teólogo, no meu entender, nada mais faz do que fazer reverberar os próprios ditos de Lutero, o grande reformador. Lutero entendia que a Palavra de Deus é o próprio Cristo, que habitou entre nós, viveu vida de cruz, morreu por nós e ressuscitou. E as Escrituras disso dão testemunho, apontam para este fato, mas não são o fato em si. E Lutero não acreditava na infabilidade total dos textos bíblicos, tanto é duvidou da inspiração da epístola de Tiago do cânon, de trechos de Hebreus e Apocalipse, além dos livros apócrifos (deuterocanônicos, para os católicos). Karl Barth, no meu sentir, tão som

A Encarnação - o verdadeiro sentido do natal

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“Eis que a Virgem conceberá e dará a luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco)” (Mateus 2.23). N esta época do ano, começamos a nos preparar para o Natal. Igrejas de características mais litúrgicas estão a cada domingo, acendendo as velas do advento. Eu, particularmente, admiro profundamente a liturgia praticada em séculos pelos cristãos, mas que, infelizmente, se perdeu nos círculos evangélicos, dos quais faço parte. Esta, penso, é uma daquelas coisas que tiramos do culto sem colocar nada à altura no lugar... Lamento ainda mais por aqueles que simplesmente aboliram o natal de seu calendário, pelo simples fato de ser uma data fictícia elaborada em um período imperial. Pena... Entretanto, não é sobre liturgias que quero discorrer nesta oportunidade, mas sim sobre algo que entendo ser o verdadeiro sentido do natal. Nada de novo, mas somente reforçar aquilo que como cristãos já sabemos. O de mais sublime, maravilhoso, indescritível, fantástico

Do contentamento com as coisas simples - II

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A vida do discípulo deve ser sem avareza e com contentamento: “Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hebreus 13.5). Tal discurso é um pouco duro em nossos tempos. Quem, por exemplo, fica muito tempo com uma mesma roupa, um mesmo sapato, um mesmo carro, um mesmo emprego, é visto como alguém que não prospera, um acomodado. Entretanto, a confiança do fiel está no Senhor. Ele não deve andar radicalmente ansioso pela conquista dos bens materiais e pela sobrevivência financeira. A vida do cristão está pautada pelos relacionamentos; principalmente, o seu relacionamento de confiança para com Deus. Quando alguém passa a freneticamente viver sua vida na busca dos bens materiais, corre o risco de se desviar da fé: “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé, e a si mesmo se atormentaram com muitas dores” (1 Timóteo 6.10). Con

Reflexões sobre o amor

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Por Thomas Merton O homem é dividido contra si mesmo e contra Deus, pelo seu próprio egoísmo que o divide do seu irmão. Essa divisão não pode, não pode remediá-la um amor que se coloca só de um lado da brecha. O amor deve estender-se de dois lados para reuní-los. Não podemos amar-nos se não amarmos aos outros, e não podemos amar os outros se não nos amarmos. Mas um amor egoísta de nós mesmos torna-nos incapazes de amar os outros. A dificuldade desse mandamento reside no paradoxo de impor a cada um o dever de amar-se sem egoísmo, porque até o amor de nós mesmos é algo que devemos aos outros. Tal verdade jamais ficará clara enquanto presumirmos que cada um de nós individualmente , é o centro do universo. Não existimos só para nós e é somente quando estamos plenamente convencidos desse fato que começamos a amar-nos de maneira devida e também aos outros. Que quero dizer ao falar em amar-nos como deve ser? Designo, em primeiro lugar, o desejo de viver a aceitação da vida como uma dádi

Quando falar sobre Deus é igual a negar a Deus

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Por Rudolf Bultmann S e entendermos por "falar de Deus" um falar "sobre Deus", semelhante falar não faz sentido algum; pois no momento em que se realiza, já perdeu seu objeto, Deus. Isso porque sempre que se pensa a idéia "Deus", ela significa que Deus seria o Todo-Poderoso, isto é, a realidade que a tudo determina. Entretanto, tal idéia não é de forma alguma pensada quando falo sobre Deus, ou seja, quando encaro Deus como um objeto do pensar, acerca do qual posso orientar-me, assumindo uma posição em que permaneço neutro diante da questão de Deus, uma posição na qual teço considerações sobre a realidade de Deus e sua natureza, as quais posso rejeitar ou, sendo convincentes, aceitar. Quem é levado a crer na realidade de Deus através de argumentos pode estar certo de que nada captou da realidade de Deus; e quem pensa estar afirmando algo sobre a realidade de Deus com provas de sua existência disputa sobre um fantasma. Isso porque todo "falar sobr

Glorificar a Cristo através do sofrimento

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"De maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais..." (Filipenses 1.13). A lgo do caráter inabalável de Paulo que nos serve de experiência para os nossos dias é o fato como ele encarava as dificuldades em sua vida como oportunidades para a glória de Cristo. No caso em questão, ele, o apóstolo dos gentios estava preso por conta de sua atividade missionária. Importante salientar que o sofrimento de Paulo não é por algum pecado, ou algum erro que ele tenha cometido, mas sim é por conta de sua própria missão, pois ele diz minhas cadeias "em Cristo". O sofrimento "em nome de Cristo" não trouxe desânimo ao Apóstolo; muito pelo contrário, ele prosseguiu com sua atividade missionária a partir de sua própria situação existencial. E o seu exemplo, na verdade, inspirou a muitos outros, pois conforme ele mesmo prossegue: "e a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor pelas minhas alg

Da mobilidade da alma comparada a uma pena

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Por São João Cassiano N ão é sem razão que se compara o modo de ser da alma a uma pena ou a uma asa muito leve. Esta, se não for manchada ou impregnada pela corrupção de qualquer líquido vindo de fora, com a ajuda de uma levíssima aragem, dada a mobilidade de sua própria natureza, como que naturalmente, eleva-se às alturas celestes. Mas, se ao contrário, se tornar pesada pela aspersão ou infusão de qualquer líquido, não somente não será arrebatada  nos seus voos aéreos pela sua natural mobilidade, mas até será arrastada para o interior da terra pelo peso líquido absorvido. Assim também, a nossa alma, se não se tornar pesada pelos vícios vindos do exterior ou pelas preocupações do mundo, ou não for manchada pelo líquido nocivo da sensualidade, como que levantada pelo atributo natural da sua pureza, elevar-se-à, ao mais leve sopro da meditação espiritual, para as alturas e, abandonando as coisas caducas e terrenas, transportar-se-à para as celestes e invisíveis. Por isso, somos mu

Apokatastasis panton

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E sse nome complicado aí do título diz respeito à restauração de todas as coisas em Cristo Jesus. Ou mais popularmente, a doutrina conhecida como Universalismo. Em linhas gerais, diz respeito à tese que no final de tudo, todas as coisas, serão reconciliadas em Deus através de Cristo Jesus. Uma das passagens preferidas desta turma que defende este ponto de vista está em Colossenses 1.20: "e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus ". O teólogo mais famoso a defender tal doutrina, salvo melhor juízo, foi Orígenes (o da figura); que posteriormente, mesmo depois de morto, teve tal idéia condenada como herética pelos cristãos ortodoxos. Perguntaram-me o que eu achava de tal doutrina. Bom. Gostaria muito que ela fosse verdadeira. Quem é que não gostaria? Ora, seria realmente muito bom que a luz, o bem e a verdade pudessem triunfar sobre cada pa