Da infabilidade das Escrituras II
Desde os meus primeiros anos em um seminário, ouvia falar muito mal de Karl Barth.
Isto porque, segundo meus mestres, Barth dizia que a Bíblia “contém” a Palavra de Deus, e não que “é” Palavra de Deus.
Obviamente, fiquei muito tempo sem ler Barth...
Ocorre que, passado um tempo, percebi que é Barth, na verdade, que se mantém fiel ao protestantismo, e não os meus mestres...
Isto porque, o mencionado teólogo, no meu entender, nada mais faz do que fazer reverberar os próprios ditos de Lutero, o grande reformador.
Lutero entendia que a Palavra de Deus é o próprio Cristo, que habitou entre nós, viveu vida de cruz, morreu por nós e ressuscitou.
E as Escrituras disso dão testemunho, apontam para este fato, mas não são o fato em si.
E Lutero não acreditava na infabilidade total dos textos bíblicos, tanto é duvidou da inspiração da epístola de Tiago do cânon, de trechos de Hebreus e Apocalipse, além dos livros apócrifos (deuterocanônicos, para os católicos).
Karl Barth, no meu sentir, tão somente retransmitiu tal ensino, obviamente, com contribuições a ele inerente.
Acreditar na infabilidade de uma lista de livros equivale a acreditar na infabilidade de quem fez tal lista, seja tal autor um teólogo católico, ou protestante, seja o concílio que a declarou católico ou protestante.
E aí, já se admite a infabilidade de uma autoridade fora das Escrituras, caindo portanto, no conceito católico.
Por isso, o conceito protestante admite a infabilidade absoluta única e exclusiva de Cristo, sendo a Escritura um meio, uma testemunha, um sacramento; não o fim em si, sendo a própria lista canônica um conceito satisfatório, recomendável, porém, aberta.
Daí, nunca foi o intuito do criador do conceito de "Sola Scriptura" defender, seja a infabilidade de uma lista de livros, nem a infabilidade "tim tim por tim tim" de tudo o quanto está descrito no conteúdo total das Escrituras.
Mas como definir o que é infalível ou não no conteúdo bíblico, ouço alguém perguntar?
É para isso que existe teologia e teólogos, em constante visitação dos textos bíblicos, da tradição e da cultura em geral...
Daí, nunca foi o intuito do criador do conceito de "Sola Scriptura" defender, seja a infabilidade de uma lista de livros, nem a infabilidade "tim tim por tim tim" de tudo o quanto está descrito no conteúdo total das Escrituras.
Mas como definir o que é infalível ou não no conteúdo bíblico, ouço alguém perguntar?
É para isso que existe teologia e teólogos, em constante visitação dos textos bíblicos, da tradição e da cultura em geral...
Comentários
Postar um comentário