O padre, segundo João Crisóstomo


É necessário que a alma do padre bilhe à maneira de uma tocha que ilumina a terra inteira; a nossa está encoberta por tal sombra provenitente de uma má consciência que se encontra incessantemente submersa nela e já não consegue levantar, com confiança, os olhos para o seu mestre. Os padres são o sal da terra; mas quem suportaria facilmente nossa tolice e nossa falta de experiência em todas as coisas, senão vocês que estão habituados a nos amar de maneira exagerada? Com efeito, é necessário não só que ele seja puro para ser julgado digno de tal serviço mas ainda que seja suficientemente precavido e possua uma grande experiência. Deve conhecer as coisas da vida como aqueles que vivem no mundo, embora deva manter-se afastado de todas elas mais do que os monges que se refugiaram nas montanhas. Por viver em companhia dos homens que têm mulher, criam filhos, dispõem de empregados, estão rodeados por grandes riquezas, administram negócios públicos e ocupam posições importantes, é necessário que ele seja diferente. Diferente não significa enganador, nem lisonjeador, nem hipócrita, mas repleto de liberdade e de confiança, sabendo-se colocar ao alcance dos outros de maneira eficaz, quando as circunstâncias o exigirem; ser ao mesmo tempo bom e sem complacências. Com efeito, não é possível adotar o mesmo procedimento em relação a todos aqueles que estão sob nossa autoridade, já que não convém que os médicos apliquem um só tratamento aos seus doentes, nem que o piloto conheça um único meio de lutar contra os ventos; de fato, este barco é assolado por constantes tempestades que não vêm somente do exterior, mas emergem do interior que exige muita flexibilidade e perspicácia. Todas estas coisas diferentes têm um só objetivo: a glória de Deus e a edificação da Igreja.



(Crisóstomo. Sobre o Sacerdórcio. Citado por Jean-Yves Leloup, em Introdução aos Verdadeiros Filósofos. Editora Vozes. p.114).

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