Arminianismo e Catolicismo Romano

Seguem abaixo algumas passagens acerca do livro arbítrio nos cânones do Concílio de Trento.


814. Cân. 4. Se alguém disser que o livre arbítrio do homem, movido e excitado por Deus, em nada coopera para se preparar e se dispor a receber a graça da justificação - posto que ele consinta em que Deus o excite e o chame - e que ele não pode discordar, mesmo se quiser, mas se porta como uma coisa inanimada, perfeitamente inativa e meramente passiva - seja excomungado [cfr. n° 797].


815. Cân. 5. Se alguém disser que o livre arbítrio do homem, depois do pecado de Adão, se perdeu, ou se extinguiu, ou que é coisa só de título, ou antes, titulo sem realidade, e enfim, uma ficção introduzida na Igreja por Satanás - seja excomungado [cfr. n° 793 e 797].

Tais artigos foram elaborados claramente contra a fé reformada.

Alguns anos após Calvino, um de seus discípulos, Jacob Armínius negou a doutrina da predestinação dos eleitos, conforme elaborada po seu meste.

Há uma substância teológica muito forte entre o catolicismo romano e o pensamento arminiano, que caracteriza o metodismo, o pentecostalismo e a ortodoxia? Sinergismo é o nome que se dá quando se entende que “as energias” do ser humano cooperam com as de Deus para a salvação. É por isso que muito pensadores reformados (calvinistas) já acusaram o arminianismo de uma volta ao catolicismo? (E um cristão ortodoxo já me disse que o arminianismo é uma volta protestante à ortodoxia). Curiosamente, um crente pentecostal, desde que não influenciado por ideias calvinistas, está mais próximo do catolicismo, neste aspecto, do que da fé calvinista?

Comentários

  1. Carlos Seino,

    Mas deve-se lembrar que os cânones de Trento foram intencionalmente ambíguos no que diz respeito à predestinação. A doutrina "oficial" do Catolicismo é a predestinação incondicional, porque foi ensinada por Agostinho e Tomás de Aquino. Inclusive, no Concílio de Trento, a Suma Teológica de Aquino foi colocada ao lado da Bíblia.

    O que os católicos nunca defenderam foi a "perseverança dos santos". Mas quanto aos demais pontos do calvinismo, pode-se dizer que estão em harmonia com a doutrina de Tomás de Aquino, ou pelo menos são mais próximos dela do que do arminianismo. Aquino ensinava que a predestinação é incondicional e que os eleitos são infalivelmente salvos por uma graça eficaz.

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  2. Olá, Ricardo! Obrigado por participar aqui no meu blog. Eu não tenho tido muito tempo para escrever, por conta do meu trabalho, mas é sempre uma alegria ver novos comentários por aqui.

    Realmente, o que vc comentou por aqui me fora anteriormente alertado por um amigo católico muito estudioso, chamado Rui, ex luterano que se converteu à fé católica.

    Embora eu não desconheça que a doutrina da predestinação incondicional seja doutrina católica também, eu tenho a impressão que o catolicismo ensina o "sinergismo", e não o "monergismo", não é mesmo? Dai, creio eu, a ambiguidade, que, de certa forma, também reveste um pouco do pensamento arminiano-wesleyano, e até mesmo no calvinismo.

    A questão dos cinco pontos do calvinismo, é que eles são absolutamente sistemáticos. Se mexer com um deles, todos os demais ficam abalados. No calvinismo, o ser humano não coopera de modo algum para a sua salvação, e há uma autêntica seleção entre pessoas que irão herdar a vida eterna e aquelas que não irão, fundamentada somente na soberania divina. Também não creio que a doutrina da totalidade da depravação humana, segundo o calvinismo, seja exatamente igual ao seu correspondente católico romano, pois para Calvino, pelo menos no que tange a salvação, o livre arbitrio humano não exerce nenhuma função.

    Estou meio sem tempo, mas seria legal continuar a meditar neste assunto!
    Grande abraço!!!
    Carlos Seino.

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  3. Aprecio este tipo de discussão.
    O autor do comentário acima, ao menos em parte esta correto, porque a doutrina proclamada em Trento é ambígua.
    Desde o tempo de Agostinho a igreja romana cindiu-se em dois grupos ou vertentes: a Católica Ortodoxa ou semi pelagiana e a agostiniana advinda - segundo Juliano de Eclanum, S Teodoro de Mopsuestia, S Crisóstomo e S Fócio - advinda do maniqueísmo.
    Tomás de Aquino pendeu ao Agostinianismo.
    E também Goteschalk, Wicleff, etc
    A Igreja Ortodoxa e tradição oriental não são 'arminianas' (pois o arminianismo é diluição do agostinianismo) mas - como descreveram Grotius e Leibnitz - Semi pelagiana. E como tal fiel a perspectiva de Justino, Clemente de Alexandria, Irineu, etc
    Voltando a Igreja romana o posicionamento teológico estava ainda indeciso ás vésperas da 'reforma' protestante.
    Convivendo juntas diversas soluções, variações ou graus de agostinianismo, até o semi pelagianismo. De um lado os partidários do sínodo de Orange e do outro os monges de Lerins chefiados pelo 'ortodoxo' S Vicente...
    Naturalmente que os partidários do agostinianismo estrito encaravam todos os outros grupos como herético.
    Desta perspectiva a partir de Wicleff surgiu a reforma protestante, tendo ela canonizado o agostinianismo antes de Trento.
    Cumpre ressaltar que pouco antes de morrer em sua obra escrita contra Juliano, Agostinho levado pelo argumento do absurdo, afirmou a soberania absoluta da graça em termos inequívocos...
    Importa saber que Adriano Pighius terçou armas contra Calvino em 1537 do ponto de vista semi pelagiano.
    A partir de Trento ouve uma tentativa de definição. Roma no entanto tem sido suficientemente astuta para sem ambígua e se limitado a polir as arestas. O próprio Aquinate foi ambíguo a respeito ora criticando ora apoiando Agostinho com uma linguagem bastante 'empolada'; de qualquer forma seus confrades Dominicanos sempre se opuzeram ao agostinianismo estrito dos franciscanos.
    Em termos gerais Trento foi ambíguo; seus comentaristas e doutores no entanto deram a compreender que a liberdade era restaurada pela graça para poder optar voluntariamente; é a teoria da graça preexistente; muito próxima do arminianismo.
    Evidentemente que os agostinianos como Berti, Noris (cardeais) e outros escoraram-se no Aquinate. E continuaram a suster a doutrina da predestinação incondicional e restrita; recusando-se apenas a reconhecer o outro lado da moeda: a predestinação para o mal ou o pecado; apenas porque não fora explicitamente afirmada pelo Bispo de Hipona.
    Outros tantos, fiéis ao pensamento humanista (daí minha franca simpatia por esta parcela da Igreja romana) continuaram a professar o semi pelagianismo sob diversos termos, especialmente sob o termo Molinismo; os jesuítas ou janízaros do papado foram os campeões deste partido que só não foi declarado herético por questões de ordem pragmática.
    Só para completar eu fui criado numa organização pentecostal de tradição calvinista, a CCB. E quando moço travei conhecimento com membros de diversas orgs pentecostais, inclusive da Add adeptos do calvinismo.
    Julgo que a simples ideia de que deus toma a direção do agir ou pensamento humano; controlando-os por assim dizer e aniquilando o livre arbítrio; é solução bastante próxima do calvinismo.
    A tradição arminiana ou > pelagiana de Wesley não se coaduna perfeitamente com o fetichismo pentecostal; eis porque, penso eu, a longo prazo, por coerência, o pentecostalismo reverterá a calvinismo estrito.
    O próprio conceito que os pentecostais fazem do Antigo Testamento abre caminho a esta possível transformação pelo simples fato de que os antigos israelitas ignoravam supinamente o princípio abstrato do livre arbítrio.
    Paz e bem.

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  4. Olá, mestre Domingos.
    Graça, paz e muito bem!
    Suas ponderações e ensinamentos sempre são muito apreciados por aqui!

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  5. Interessante, que Armínio e Wesley foram acusados também se semi-pelagianos, e alguns até entenderam que o metodismo, em certo sentido, restaurou algo caro á ortodoxia no protestantismo, sendo uma "reforma na reforma".

    Também acho muito curiosa a postura e doutrina predestinacionista na CCB. Creio que isso vem um pouco pelos waldenses (que também sustentavam tal doutrina) e um pouco pelo presbiterianismo. No catolicismo, s.m.j., o jansenismo era também radicalmente predestinacionista.

    E, de fato, não são poucos os pentecostais que estão se tornando calvinistas. É que, ao que parece, a ortodoxia calvinista parece oferecer um edifício sistemático mais lógico ao protestantismo, algo que o arminianismo parece não ter oferecido.

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  6. Arminianos e Papistas estão de mãos dadas porque negam a depravação total ensinada nas Escrituras e pelos reformados. É justamente por isso arminianos e Papistas defendem com unhas e dentes o tal livre-arbitrio.

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    1. Pelo que entendo hoje do arminianismo, Armínio não negava a doutrina da depravação total. Muitos, inclusive, consideram Armínio monergista. Ele ensinava que a graça preveniente vem primeiro sobre o pecador, e que este, sim, poderia resistir a tal graça. Nisto se resumiria o tal livre-arbítrio, não entre escolher entre Deus ou não, mas em resistir ou não à graça. É isso que entendo.

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