O evangelho de Lucas e os marginalizados da sociedade

É muito bonito e inspirador perceber o quanto o evangelista Lucas dá atenção aos marginalizados da sociedade nos tempos de Jesus.

Por exemplo, Lucas dá uma ênfase muito interessante em relação aos samaritanos. Estes eram bastante discriminados pelos judeus, considerados verdadeiros hereges cuja linhagem havia também se misturado com a os gentios.

Entretanto, Jesus contou uma parábola que ficou conhecida como a do "bom samaritano" (uma pena ela ter sido reconhecida por este título, pois ele em si já é preconceituoso) em que um samaritano ajuda um homem necessitado e que havia sido violentamente agredido, e que fora desprezado por um sacerdote e um levita (Lc 10.25-27). Ou seja, ele quis dizer que o samaritano cumpriu a lei do amor, e não o judeu. Também houve uma ocorrência registrada em Lucas, em que Jesus cura dez homens, mas somente um samaritano volta para agradecer (Lc 17.11-19).

Lucas também dá uma atenção especial neste evangelho aos pobres, enquanto que o mal uso das riquezas é radicalmente combatido. Por exemplo, em uma das bem aventuranças, Lucas diz ser bem aventurados "os pobres, porque vosso é o reino de Deus", bem como "os que tendes fomes, porque sereis fartos" (Lc 6.20-21). Ele "materializou" uma bem aventurança que em Mateus está em um sentido mais espiritual (Mt 5.3). Ele nos conta uma parábola de um homem que dedicou a vida a ajuntar riquezas, mas cuja alma foi pedida de repente, e ele não era rico para com Deus (Lc 12.15-21). Jesus exortou os seus ouvintes a venderem os seus bens e darem de esmola para os necessitados (Lc 12.33). Ele contou ainda o magistral relato do relacionamento entre o rico e Lázaro (note que só o pobre recebe um nome nesta parábola). Nesta parábola, o rico, que desprezava Lázaro, é remetido por Deus ao hades, enquanto Lázaro recebe toda a consolação no Paraíso (Lc 16.19-31).

O evangelista Lucas dá uma atenção especial também às mulheres neste seu evangelho. Por exemplo, ele nos conta que, enquanto Jesus e os seus discípulos iam de aldeia em aldeia pregando o evangelho, havia um grupo de mulheres que o acompanhava e que haviam sido beneficiadas por ele. Relata ainda que estas mulheres prestavam assistência a Jesus com os seus bens (Lc 8.3).

Outro grupo que era relativamente marginalizado nos tempos de Jesus era o das crianças. Mas é muito lindo como este evangelista dá uma especial atenção aos relatos da infância de Jesus e de João Batista. De João Batista diz que ele seria cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe (Lc 1.15), e por conta disso sua própria mãe ficou cheia  do Espírito Santo (Lc 1.41). É o evangelho que dá mais detalhes da infância de Jesus, como aquele em que ele vai ao templo e deixa seus pais preocupados (Lc 2.39-52). Lucas também relata acerca de alguns filhos de pessoas que são curados, mas este evangelista é o único a ressaltar que se tratavam de filhos únicos (Lc 7.12; 8.42; 9.38).

Lucas nos dá então uma bonita lição no sentido de que a igreja deve prestar bastante atenção naqueles que são discriminados, excluídos da sociedade, marginalizados. Temos que estar atentos aos pobres deste mundo, às crianças que não têm quem as defenda, às mulheres, sempre mais fracas nas relações de domínio e de poder, e em relação a todos aqueles que são perseguidos e discriminados. Lucas fez uma opção por estes que eram fracos e marginalizados, e isto, inspirado na vida e nos ensinos de Jesus. Nós também, embora o evangelho seja igualmente para todos. Mas há muitos que precisam da voz da igreja para que se sintam defendidos e amados.

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