Por que o rico dificilmente entrará no reino de Deus?

Houve uma ocasião em que um jovem, rico, importante e cheio de propriedades procurou Jesus, indagando-lhe acerca de como deveria fazer para herdar a vida eterna.

O Senhor o desafiou a vender seus bens, dar aos pobres, e depois segui-lo.

Sabemos da narrativa do evangelho que o jovem foi embora triste, pois era muito rico, e que havia ficado contrariado com a palavra de Jesus.

Os discípulos se espantaram, de modo que o Senhor enfatizou que dificilmente um rico entraria no reino.

Geralmente, todas as vezes que se medita em uma palavra assim, as pessoas já vão pensando nas exceções, dizendo que Abraão era rico e era bom, ou José de Arimateia, que ajudou nosso Senhor, ou ainda dizendo que o problema não é o dinheiro em si, mas o amor que se sente por este.

Bom.

Bem posso admitir que haja sim ricos que são bons, e que fazem exceção a regra (embora João Crisóstomo talvez não concordasse comigo, pois para este, era impossível ser rico e ser bom), porém, isso não muda o ensino geral que o Senhor deu no sentido de que dificilmente um rico entrará no reino de Deus.

E a indagação fica: por que um rico dificilmente entrará no reino dos céus?

Podemos conjecturar.

Um dos problemas da riqueza é se ela foi adquirida mediante fraude, que é algo plenamente reprovável pelas Sagradas Escrituras.

Fraude no sentido de não se cumprir com o que diz, de se explorar os trabalhadores.

Tiago chega a dizer que o salário que foi injustamente retido chegava a clamar a Deus, e que este ouvia tais clamores.

O problema da extrema riqueza é que, nem sempre ela é obtida da forma mais honesta. Diga-se de passagem que, embora legal, talvez nem sempre seja eticamente viável segundo o padrão das Escrituras. 

Tais riquezas injustas serão carcomidas, apodrecidas, enferrujadas, se apegarão à carne dos que a possuíram, devorando-a como fogo, e darão contra os tais testemunho no dia do juízo. Tais ricos devem chorar pelas desgraças que vos sobrevirão.

É possível alguém prosperar com honestidade e justeza? Creio que sim! Entretanto, é possível ser extremamente rico, sem ter caído na corrupção ou algo do tipo? Aí, já não sei.

O outro problema que talvez faça dificultar a entrada do rico no reino seja a insensibilidade. 

Jesus chega a narrar a história de um homem extremamente rico, enquanto em seu portão, outro padecia necessidade.

Ambos morreram. O pobre foi para o seio de Abraão, enquanto o outro, rico, foi para um lugar de tormento.

Nenhuma obra é narrada de nenhum dos dois. Só o fato de um ter padecido na vida, e do outro, ter vivido de forma luxuosa e confortável.

A falta de compaixão do rico sequer é mencionada explicitamente em tal passagem, sua insensibilidade.

Porém, mesmo assim, foi para o tormento.

Isso nos parece demonstrar que uma característica que pode estar na vida do rico é justamente a insensibilidade com os mais sofridos.

Eles não ligam, não se importam com os que padecem necessidade. Não vão onde moram. Não andam pelas ruas, pelos becos, quebradas, hospitais lotados, presídios.

Ta insensibilidade é característica até de muitos daqueles que nem são tão ricos assim.

Muitos ricos se fecham dentro de seu mundo caro, e não se envolvem profundamente com os que padecem necessidade.

Não fazem o movimento que Cristo fez, de deixar a sua glória, de se adaptar aos mais necessitados.

E essa insensibilidade será fatal.

É por isso que Paulo escreveu à Timóteo que os ricos devem ser exortados a não serem orgulhosos, nem a depositar a sua esperança nas riquezas, mas em Deus, e que deveriam praticar o bem, serem ricos de boas obras, generosos em dar e repartir, e que assim acumulariam tesouros verdadeiros.

John Wesley, se não me falha a memória, chegou a falar em "riquezas da iniquidade", no sentido de que, toda a riqueza, em algum sentido, ao ser adquirida, continha em si algo da mancha do pecado, daí a necessidade de se "fazer amigos" por meio delas, conforme a parábola em São Lucas, para que fôssemos recebidos nos tabernáculos eternos.

Somente pela amplíssima caridade poderá o rico ter acesso ao reino de Deus (caridade essa da qual todos somos devedores).

É essa caridade que demonstrará que creram no evangelho de Cristo.

Dos motivos pelos quais dificilmente um rico será salvo

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