Uma meditação sobre o desapego
Durante muito tempo em minha vida
sofri por verificar que a maior parte das coisas não acontece da maneira como
gostaria.
Tanto esforço, por exemplo, na
vida profissional, quando vem alguma decisão, “do alto”, da maneira diametralmente
oposta àquilo que considerava o mais correto. Achava que as coisas tinham que
acontecer do jeito do que eu queria.
Foi quando percebi que um dos
maiores (ou o maior) bem que eu possuo sou eu mesmo, aquilo que sou e me tornei
com os meus próprios valores. Nada me pertence, a não ser eu mesmo, e olhe lá. Esta
frase “nada me pertence” foi realmente libertadora para mim. A empresa que eu
trabalho, na verdade, não é minha. As instituições que participo. A vontade dos
outros ao meu redor. Nada é meu. Tudo o que posso fazer é dar o melhor de mim,
dos meus valores, mas desapegado dos resultados. E de algum modo, quando deixei
a vontade de me apoderar das coisas, de algum modo misterioso, elas vieram até
mim.
Vejo que a maior parte das
pessoas adoece justamente por fazerem o caminho contrário, o caminho do apego. Elas
se apegam às suas ideias profissionais, e quando não são aplicadas, adoecem. Apegam-se
à necessidade do controle do outro, daí, desenvolvem cada vez mais mecanismos
de manipulação. Também se apegam à necessidade de reconhecimento. E assim
sucessivamente.
Sou funcionário de uma
determinada empresa. Procuro me empenhar para colaborar com o seu
desenvolvimento. Dou minhas opiniões. Se ela é acatada, muito bom. Se não o
for, seguimos em frente (afinal, nada é meu nada lá me pertence). Sou líder em
uma comunidade eclesiástica. Aconselho e opino algumas pessoas em determinadas
direções. Elas irão seguir? Não necessariamente. Vou sofrer com isso? Certamente,
mas há um momento que não posso mais avançar, e devo deixar cada qual com sua
própria escolha e vida (afinal, a vontade dos outros não me pertence).
Creio que uma das maiores lições
que temos de aprender como adultos é isso. A serenidade de reconhecer situações
que não podemos mudar, e que é preciso se desapegar daquilo que não parece ser
tão essencial. Claro que há valores que consideraremos essenciais, e aí
partiremos para a batalha. Mas aí, estaremos mais preparados para separar o
joio do trigo e nos dedicar aquilo que realmente importa.
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