Aprendendo a evangelizar com Jesus

A mulher samaritana

As Escrituras Sagradas nos dão o privilégio de termos em nossas mãos uma narrativa em que nos ensina a evangelizarmos com o próprio Jesus. O Filho de Deus encarnado nos deixou princípios muito bonitos de como compartilhar, coração a coração, a sua Palavra, e faríamos bem em aprender. Todos os princípios aqui expostos estão embasados no Evangelho segundo São João, Cap. 4. Cuida-se da conhecida narrativa entre Jesus e a mulher samaritana.

Jesus nos ensina, em primeiro lugar,  a termos uma postura humilde. Ele se aproximou daquela mulher e lhe pediu água para beber (v. 7). Ora, era impensável que um homem, judeu, fizesse tal pedido a uma mulher samaritana. Nosso Senhor mostrou fragilidade, vulnerabilidade, humildade. Foi um modo de aproximação. Assim também nós, quando comunicamos o evangelho, não podemos nos achegar como seres superiores, arrogantes, colocando o outro em posição de inferioridade. Somos chamados para compartilhar o evangelho, e não para sermos colonizadores.

Em segundo lugar, percebemos que Jesus rompeu barreiras para estar com aquela mulher. Jesus rompeu a barreira de gênero, pois não era dado a um judeu ensinar pessoalmente uma mulher. Ele rompeu a barreira religiosas, pois havia séculos uma ruptura e concorrência entre judeus e samaritanos. Ele rompeu a barreira religiosa, pois o judeu considerava o samaritano como que de uma raça inferior. E é provável que ele tenha rompido a barreira social, pois é bem possível que ela fosse de uma vida um tanto quanto duvidosa. Assim também nós, se quisermos comunicar o evangelho, temos que romper estas e outras barreiras de igual tipo. Talvez romper também as próprias barreiras interiores que existem em nós, como o medo, a timidez, a preguiça, a insegurança, a fim de que possamos aprender a comunicar o evangelho.

Em terceiro lugar, vemos que Jesus evita discussões inúteis e vais sempre direto ao assunto. Primeiro, aquela mulher invoca uma discussão racial: "como tu, sendo judeu, pede água para mim que sou mulher samaritana?" (v. 9). Jesus foi direto ao ponto: "...se soubesse quem é o que te pede, tu lhe pediria e ele lhe daria água viva (v. 10). Jesus fala de vida com aquela mulher! Depois ela invoca uma discussão religiosa: "és tu maior que nosso pai Jacó?" (v. 12). Jesus não se deixa levar pela dispersão dela e volta ao que é importante: "quem beber da água que eu der nunca mais terá sede" (v. 14). Assim também nós, quando comunicamos o evangelho, temos que nos ater ao que é essencial, ao que é a verdadeira vida, àquilo e Àquele que pode salvar. A coisa mais difícil muitas vezes, é comunicar o evangelho ao lado de outro cristão, principalmente quando não é de nosso ministério, pois aí começam as discussões sem fim, e acabamos perdendo a alma que iria nos ouvir. Nos atentemos sempre ao que é essencial, e não nos percamos em discussões periféricas!

Em quarto lugar, Jesus exaltou o pouco da virtude moral daquela mulher ao invés de jogar em seu rosto sua pecaminosidade. Jesus pediu que ela chamasse o seu marido (v. 16) e ela disse que não  tinha marido (v.17). E Jesus, apesar de saber que ela já tinha tido cinco maridos, e que o que ela estava agora sequer marido era (talvez um cliente, talvez uma relação extraconjugal) não lhe aplica um sermão, e sim elogia o fato dela ter falado a verdade (v. 18)! Ou seja, Jesus é realmente aquele que não esmaga a cana quebrada nem apaga a brasa que fumega (Mateus 12.20). Ele percebe o pouco de dignidade que ainda há naquela mulher, e a exalta. Como disse um poeta urbano, "até no lixão nasce flor". Assim também não devemos sair por ai como policiais da moral, e sim procurar resgatar os seres humanos, atolados até o pescoço em seus embates cotidianos, e lhes restaurar a pouca dignidade que lhes resta.

Em quinto lugar, há sempre o momento do confronto com a verdade. Após toda esta aproximação que Jesus realizou em relação àquela mulher, chega o momento do confronto. Jesus disse a ela: "vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus" (v. 22). Talvez fosse tudo o que um samaritano não gostaria de ouvir. Mas não é possível negociar a verdade. Por maior que seja a nossa aproximação de alguém, chega um momento do confronto, e ele é duro. Podemos dizer a um budista: gostamos de Buda, e de muitas coisas que ele ensinou, mas "a salvação vem dos judeus", somente Cristo ressuscitou. Podemos dizer a um espírita: "gostamos das obras sociais que vocês realiza, e são pessoas muito bem intencionadas, mas a salvação vem por meio da fé em Cristo, e não pelos ensinamentos de kardec, e assim sucessivamente. O problema de muitos cristãos dito "progressistas" é que eles só fazem, muitas vezes, o caminho do amor, de ida ao próximo, mas se esquecem da verdade.

Em sexto lugar, verificamos que Jesus viu potencial em alguém que o mundo geralmente despreza. Para entendermos o evangelho de João, precisamos aprender a lê-lo não somente como uma cronologia, mas também nos paralelos que ele nos apresenta. Por exemplo, no capítulo anterior Jesus teve um diálogo com Nicodemus. Este era homem, judeu, fariseu, membro do sinédrio. No capítulo quatro, Jesus dialoga com uma mulher (cujo nome nem é dito), samaritana, e talvez vivendo em adultério ou prostituição. São pessoas completamente diferentes. Só que Nicodemus procurou Jesus a noite (João 3.2) e o encontro de Jesus com a mulher samaritana foi durante o dia (João 4.6). Nicodemus meio que se torna um discípulo secreto do Senhor (que terá a sua importância) mas aquela mulher se torna uma evangelista de mão cheia. Ela evangelizou toda a sua aldeia e os levou até Jesus (João 4.29-30). Assim também nós temos que procurar enxergar o potencial das pessoas, e não desprezar ninguém. Deus usa as coisas loucas do mundo para confundir as sábias. Aqueles que o mundo despreza poderão ser muito usados por Deus.

E em sétimo lugar, vemos que Jesus faz do compartilhar do evangelho a missão de sua vida. Ele disse que a sua comida "consiste em fazer a vontade daquele que me enviou" (v. 34), e depois disse que "os campos estão brancos para a ceifa" (v. 35), ou seja, uma menção ao trabalho evangelístico. Assim também, se nós quisermos ser cooperadores do evangelho de Cristo, temos que fazer da proclamação de sua palavra e do apostolado a nossa paixão, o motivo de nossa própria existência. E Jesus disse que isso ainda dá recompensa, pois afirmou que "o ceifeiro desde já recebe a recompensa e entesoura o seu fruto para a vida eterna; e dessarte, se alegram, tanto o semeador quanto o ceifeiro" (João 4.36).

Estes foram sete princípios práticos para aprendermos a evangelizar com Jesus, utilizados neste contexto analisado. Faremos bem se aprendermos a aplicá-los em nosso dia a dia.

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