Lidando com o dinheiro em tempos de crise
Graça e paz!
A atividade pastoral exige que
sejam dadas orientações de diversos tipos na vida das pessoas. Vão desde coisas
consideradas “espirituais”[1], como orar, ter um
programa de leitura bíblica, evangelismo, ou mesmo questões mais práticas, como
o relacionamento conjugal, postura no trabalho, entre outras coisas.
Uma destas questões práticas é
sobre o uso do dinheiro. Estamos vivendo tempos difíceis. Muitas coisas que
ocorrem ao nosso redor não são consequência da nossa atividade direta, como o
preço da gasolina, o valor da condução, o preço do pão, do leite, do café,
entre outras coisas.
Também não escolhemos o lar em
que nasceríamos, o bairro, a cidade, a cultura, a família (ou ausência desta).
Faz muita diferença entre ter nascido na Finlândia ou na periferia de São
Paulo.
A maioria de nós não tem culpa
direta[2] pelo fato de estarmos em
meio à uma crise financeira no país. Os juros estarem altos, e coisas do tipo.
Entretanto, mesmo em meio à
crise, mesmo em meio às dificuldades econômicas, ou em estarmos em um contexto
difícil, creio que é possível delinear algumas atitudes concretas que podem nos
ajudar, enquanto cristãos, a lidarmos com o dinheiro em meio à crise
financeira.
Nesta curta mensagem, vou me
ater a alguns textos do livro de Provérbios.
O primeiro conselho que, “de
cara”, gostaria de extrair do mencionado livro, é referente ao texto que se
encontra em Provérbios 3.9:
Vejam.
Falo como a cristãos. Falo
àqueles que possuem fé.
O texto acima nos fala para
“honramos ao Senhor” com a primeira parte (primícias) dos nossos ganhos.
Não é minha intenção reviver o
complexo sistema de contribuições do antigo testamento, que pode ser dividido
em dízimos, ofertas, primícias e primogênitos. Não é esta a questão.
A ideia aqui envolvida é que a
nossa intenção em tudo o quanto fazemos, mesmo naquilo que ganhamos, é “honrar
ao Senhor”. É aquilo que vai no nosso coração, em nossas intenções.
Claro que, enquanto pastor
evangélico, e como fiel membro da igreja, sempre interpretei o mencionado
versículo como a contribuição que se dá na comunidade. Em se separar parte dos
ganhos e ofertar para o que hoje chamamos obra do Senhor. Sei que há outras
interpretações possíveis, e até quem diga que o versículo não é mais válido
para os dias de hoje. Minha intenção não é discutir com tais ideias, e entendo
que cada qual deve estar bem firmado em sua mente, naquilo que acredita. Tão
somente expor que, enquanto cristão, entendo que o Senhor deve ser honrado em
todas as coisas, inclusive com nossos eventuais ganhos, sejam eles dirigidos
aos pobres ou inseridos na comunidade de fé, ou ambos. Fato é que o versículo
tem uma bonita promessa, e creio que não é errado semear com a expectativa de
se colher frutos melhores, desde que não se faça isso com um espírito de troca,
mas sim de voluntariedade, amor e desejo de honrar ao Senhor.
Outrossim, acho bom começar
nosso texto com um versículo assim. Isso porque, pelo menos para nós, os
crentes, a nossa prosperidade não vem em primeiro lugar como fruto do nosso
esforço e trabalho. Não. Vem pela graça de Deus. Assim entendemos. Por isso,
d’Ele, por Ele e para Ele são todas as coisas. Por isso, entendemos ser o mais
correto, honrar a Deus com as primícias da nossa renda.
Há outro princípio que gostaria
de compartilhar é o que se encontra em Provérbios 12.24, que assim diz:
Aqui já estamos em um campo
que depende, em muito, de nós mesmos.
Independentemente do local em
que nascemos e crescemos, do que fazemos, nós é que definiremos se seremos ou
não diligentes.
Ser diligente é ser
organizado, responsável. Alguém que se possa contar. Esforçado. Alguém que dá o
melhor de si.
Se você faz bem alguma coisa,
estude para fazer melhor. Não importa o que seja, não importa de onde se está
começando. Seja dos serviços mais simples aos mais complexos. Cumpra prazos.
Não fique chegando atrasado no seu trabalho. Não se distraia com redes sociais,
ou outras coisas do tipo. Se você é profissional liberal, certifique-se que
seus clientes estão satisfeitos com o seu trabalho.
Um terceiro conselho que eu
gostaria de deixar para com os irmãos é o de ser prático no que se refere a ter alguma renda. Vejam o que diz
Provérbios 14.23:
Veja o que o texto diz: “em
todo trabalho há proveito”. Eu vejo que as pessoas, muitas vezes, romantizam
muito esta questão do trabalho. Em minha vida, sempre pensei assim: que ter
algum trabalho, ganhar algum dinheiro, é melhor do que não ter trabalho nenhum,
do que não ganhar dinheiro nenhum.
Então, entendo que não podemos
ser muito frescos nesta questão. Talvez um momento ode crise seja a
oportunidade de mudarmos um pouco de área. É possível que a nossa área já está
um pouco saturada. Talvez a gente não consiga, no momento, ter o mesmo salário
do que tínhamos antes de sermos mandados embora de outro emprego. Logo, é
possível que não dê para ficar escolhendo muito. O importante é não deixar de
entrar algum dinheiro. Como diz o ditado popular, “é melhor pingar do que secar”.
Eu sempre associei um pouco
esta questão da espiritualidade com a do trabalho. “Ora et labora”, diz um
velho ditado. Todas as vezes que fiquei sem trabalho, a minha espiritualidade
não funcionava direito. Logo, muitas vezes, mesmo podendo ter um emprego
melhor, não vacilei em trabalhar de atendente, lavar banheiro, caixa, office
boy, o que for necessário. Eu, particularmente, tinha horror em ficar parado. Em
minha vida, pela misericórdia de Deus, isso sempre funcionou.
Você também pode inovar. Tem gente,
por exemplo, que conseguiu pagar os estudos vendendo
pão de mel. Há outro testemunho de uma empregada doméstica que se tornou
juíza estudando
com livros achados no lixo. Tente, invente, faça diferente, não perca tempo
com coisas que não te darão nenhum retorno. Plante de manhã, a tarde e à noite,
pois você não sabe qual dará o seu fruto (Eclesiastes 11.6).
Um outro conselho que o livro
de Provérbios nos dá é o de saber poupar
um pouco. Está escrito:
A riqueza de procedência vã diminuirá, mas quem a ajunta com
o próprio trabalho a aumentará.
Provérbios 13:11
Provérbios 13:11
Vejam. Juntar com o próprio
trabalho. Como isso é importante.
Uma das regras de ouro da
economia é não gastar mais do que se ganha. Todos nós tempos um tempo de
produtividade, que irá se acabar. Um dia chegaremos na velhice, onde nossa produtividade
diminui. Daí, será melhor ter algo acumulado do que depender dos filhos, ou
mesmo do estado. Alguns dizem que o ideal seria tentar poupar pelo menos dez
por cento do quanto se ganha.
Também é importante, no mundo
em que nós vivemos, entender um pouco de investimento. Não tem jeito. Se você,
por exemplo, nos tempos que nós vivemos, de juros altos, deixar o seu dinheiro
na caderneta de poupança, vai perder dinheiro. Guardar debaixo do colchão, nem
pensar! Por isso, é preciso conhecer um pouco sobre renda fixa, CDB, LCA, LCI
(estes dois últimos não cobram imposto de renda), Tesouro Direito (que nenhum
gerente de banco te oferece por não dar lucro para a instituição), fundo de
investimentos, ações, etc. Talvez seja bom você fazer uma planilha de gastos,
para saber se não está desperdiçando com alguma coisa.
Outro conselho que acho muito
importante no livro de provérbios é o de tomar
cuidado com empréstimos. Está escrito:
A coisa mais comum é você ver
propaganda de banco te oferecendo dinheiro para financiar alguma coisa. Tenho amigos
que se comprometerem por 60 meses para comprar um carro. Trinta anos para pagar
um imóvel. O problema disso é que os juros podem estar muito altos, e você
acaba pagando três vezes o valor do bem. O ideal é tentar abaixar um pouco o padrão
de vida, poupar o necessário para pagar o bem a vista, ou então, dar uma boa
entrada para não naufragar nos juros altos. Muitas pessoas, no meio do caminho,
podem perder o emprego, deixar de pagar, e perder o bem. Tome cuidado com
empréstimos. Cuidado com o “usufrua agora e pague depois”. Talvez por falta de
educação financeira por parte da população, os bancos lucrem mais do que
deveriam.
E finalmente, o último
conselho da Palavra do Senhor que eu gostaria de deixar é o de ser generoso:
Nós não podemos fazer do
dinheiro uma idolatria. Esses conselhos para lidar com o dinheiro são para
tornar nossa vida melhor, mais agradável, para incentivar à prudência, mas não
são para fazer disso o único objetivo de nossas vidas. Enquanto cristãos, temos
duas obrigações que são a de contribuir para a expansão do evangelho no mundo e
aliviar a dor dos que são necessitados, atendendo principalmente ao órfão e à
viúva, os mais fracos da sociedade. Não se trata do dinheiro pelo dinheiro, e
sim, como meio para ajudarmos mais os que necessitam.
Enfim, meus irmãos, muitos
outros conselhos poderiam ser dados. De qualquer modo, creio firmemente que, se
estes forem seguidos, nos darão sabedoria para lidarmos com esta área tão
delicada de nossas vidas, que é a área financeira.
Deus abençoe!
Que o Senhor nos guie em todas
as coisas!
![]() |
Pixabay |
Comentários
Postar um comentário