Teologia da Evangelização
Trata-se de esboço de uma aula que ministrei acerca do tema "Teologia da Evangelização".
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O que significa “evangelho”?
Grego
Clássico: Evangelho (substantivo) = (Euaggelion)
(euangélion); Evangelizar (verbo) = Euaggelizw (euangelizo).
Significados: recompensa ao mensageiro ou ação de
graça aos deuses pela boa notícia; boas novas ligadas ao imperador; boas novas.
Antigo Testamento (besorâh): 1Sm 4.16-17; 1 Sm 31.9; 2Sm 18.19-20; Jr
20.15; 2Sm
18.24-27; Is 52.7; Sl 40.9; 96.1-13; Is 40.9; 41.27; 52.7; 95.1; Is 61.1-3; Is
60.6
Septuaginta: Euaggelion (euangélion): 2 Sm 4.10; 18.22,25; euaggelizomai (euangelízomai) é usado teologicamente: Sl
40.9; Sl 96.2; Is 40.9; 52.7; Is 62.1.
Novo
Testamento (algumas
citações): Mc 1.15; 8.35; 14.9; 16.15; Rm 1.1; 1.16; 11.28; 15.19; At 15.7;
20.24; Ef 1.13; Ef 6.15; Ap 14.6
O
verbo evangelizar (euvangelizo) e o substantivo evangelho (euangelion) – e os
seus cognatos “evangelismo”, “evangélico”, “evangelista”, “evangelização” – são
palavras provenientes do grego, que, passando pelo latim, chegaram ao nosso
idioma de forma transliterada.
Toda
a história de Jesus é o evangelho (Mc 1.1);
É
o evangelho do Reino (Mt 4.23; 9.35);
É
a mensagem a ser pregada no mundo todo, evento intimamente relacionado com a
morte de Cristo (Mt 26.13);
É
o Evangelho de Deus (Rm 1.1; 1 Ts 2.9);
Evangelho
da promessa (At 13.32);
Evangelho
da graça de Deus (At 20.24);
Evangelho
da glória de Cristo (2 Co 4.4);
Evangelho
da glória de Deus (1 Tm 1.11);
Evangelho
da nossa salvação (Ef 1.13);
Evangelho
da paz (Ef 6.15);
Evangelho
eterno (Ap 14.6);
O
Evangelho é poder de Deus (Rm 1.16)
O
Evangelho é que nos gera em Cristo (2 Co 4.15);
Evangelho
é a proclamação das boas novas aos homens, d’Aquele que foi anunciado pelos
profetas do Antigo Testamento, consistente na obra vicária de Cristo, isto é,
sua morte e ressurreição dentre os mortos, e seu Senhorio sobre tudo e todos. É
o nome que se dá ao evento salvífico realizado por Jesus Cristo, o filho de
Deus.
Qual o conteúdo da mensagem do evangelho? Atos
2.22-39; 4.10-12;
Seu
conteúdo é a proclamação da vida, morte, ressurreição e senhorio de Cristo,
conclamando cada ser humano ao arrependimento, à fé, à conversão, ao batismo e
ao discipulado a fim de receber o dom do Espírito Santo, aguardando a parousia do nosso Senhor. Jesus Cristo é
o Evangelho. O evangelho, antes de ser
uma mensagem, é uma Pessoa. Jesus Cristo é o Verbo infalível de Deus!
O que é evangelizar, evangelismo
(ou evangelização)?
Verbos:
euangelizomai,
euangelizo, substantivos: euangelion, euangelos derivam
de aggelos.
Evangelizar
(euangelidzo): trazer ou anunciar
boas novas, proclamar, pregar; (euangelidzomai):
trazer boas novas, proclamar boas notícias, proclamar, pregar.
O que significa estudar uma
Teologia da Evangelização?
Teologia
significa “discurso acerca de Deus” e evangelismo é o “ato de anunciar o
evangelho”. Para uma perspectiva cristã e evangélica, entendemos que estudar
uma teologia da evangelização é estudar sistematicamente o que as Sagradas
Escrituras dizem acerca do tema e suas implicações práticas contemporâneas.
Quem é o evangelista?
Euangelistes (euanggelisths): “proclamador
das boas obras do Evangelho”.
O
mensageiro era aquele que trazia uma mensagem de vitória, ou qualquer outra
mensagem que causaria alegrai no interlocutor.
Todos
são chamados a dar testemunho (1 Pe 3.15), mas aprouve a Deus separar alguns
com uma capacitação especial para este ministério (compare Atos 8.4-5 e ss). Efésios
4.11 (um dos cinco ditos “dons ministeriais”). O evangelista é alguém
especialmente capacitado para proclamar o evangelho de Deus.
Quais as características de um
evangelista (entre outras)?
Alguém
que, pela graça de Deus é cheio do Espírito Santo, e leva uma vida de oração
(Atos 4.8, 4.31; 6.8-10; 7.55; 9.17; 11.24; 13.9).
Alguém
imbuído da Palavra de Deus (II Tim 2.15 cc. II Tim 3.16-17 cc. 4.5).
Alguém
cujo principal foco na vida é a glória de Deus pelo anúncio do evangelho,
estando também cheio de amor e compaixão pelas almas (1 Co 9.15 cc. 10.33; Ef
3.8; Rm 9.3).
Alguém
que aproveita cada oportunidade para anunciar o evangelho de Deus (Atos 12.19
cc Atos 16.25-33).
Alguém
cuja palavra causa um efeito agregador dos ouvintes ao evangelho de Deus (At
8.5-8).
Qual a motivação para o
evangelismo (entre outras)?
A
glória de Deus (Atos 17.16; 17.29; I Co 10.33).
A
compaixão pelas almas. A paixão pelas almas vem do próprio Deus para os nossos
corações (Rm 9.3).
Saber
que o poder de Jesus o capacita (Mt 28.18-20)
Saber
que o resultado vem de Deus (Mt 11.27; 16.17; Jo 1.13; At 16.14; Rm 8.29-30)
A
satisfação de ver crescer “a Palavra de Deus” (Atos 12.24; 19.20).
Contribuir
para a grande obra de salvação do mundo: Ap 5.9
A
consciência de que vivemos nos últimos dias (Atos 2 e Joel 2, I João – já é
chegada a última hora).
Qual o papel do Espírito Santo na
obra Evangelizadora da Igreja?
Capacitador
da Igreja:
Poder
para testemunhar a todos os povos: Lc 24.49; At 1.14-15; Atos 2.1-3
Testemunho
às autoridades: At 4.8 e ss
Poder
renovado: At 4.23-31
Poder
para o martírio e anúncio: At 6.3; 6.8-10; 7.55; 8.5-8; 8.26-39;
“Cair”
sobre os que ouvem a mensagem: At 10.44;
Discernir
os que estão aptos para a missão: At 11.21-26;
Ele
tem a presidência da missão: 13.2-4;
Mais
importante que a sabedoria de linguagem: 1 Co 2.1-5;
Operando
no coração dos que irão receber a mensagem:
Convencendo
o mundo do pecado, da justiça e do juízo: João 16.8; 1 Co 2.14.
Em suma: Capacitação da Igreja e preparando o
coração dos que irão receber o evangelho.
Qual a relação entre o amor
cristão e o testemunho? “Se amardes uns aos outros...” (João
13.34-35).
Qual a relação entre missão e
unidade? “Sejam um como eu sou um com o Pai para que o mundo creia que
tu me enviaste...” (João 17.20-23).
Texto de apoio: Pacto de Lausanne.
“Afirmarmos que é propósito de Deus haver na
igreja uma unidade visível de pensamento quanto à verdade. A evangelização
também nos convoca à unidade, porque o ser um só reforça o nosso testemunho,
assim como a nossa desunião enfraquece o nosso evangelho de reconciliação.
Reconhecemos, entretanto, que a unidade organizacional pode tomar muitas formas
e não ativa necessariamente a evangelização. Contudo, nós, que partilhamos a
mesma fé bíblica, devemos estar intimamente unidos na comunhão uns com os
outros, nas obras e no testemunho. Confessemos que o nosso testemunho, algumas
vezes, tem sido manchado por pecaminoso individualismo e desnecessária
duplicação de esforço. Empenhamo-nos por encontrar uma unidade mais profunda na
verdade, na adoração, na santidade e na missão. Instamos para que se apresse o
desenvolvimento de uma cooperação regional e funcional para maior amplitude da
missão da igreja, para o planejamento estratégico, para o encorajamento mútuo,
e para o compartilhamento de recursos e experiências” (Pacto de Lausanne, item
7).
Em sua opinião, há alguma relação
entre evangelismo e ação social? Lc 12.33; 14.12-14; Mt
25.31-40; Lc 16.19-31; Gl 2.10; 2 Co 9.6-9.
“Afirmarmos que Deus é o Criador e o Juiz de todos
os homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela
conciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo
tipo de opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa,
sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade
possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida,
e não explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos
algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social mutuamente
exclusivas. Embora a reconciliação do homem não seja a reconciliação com Deus,
nem a ação social evangelização, nem a libertação política, salvação, afirmamos
que a evangelização e o envolvimento sócio político são ambos parte de nosso
dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca
de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e nossa obediência à Jesus
Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda
forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de
denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas recebem
a Cristo, nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar,
mas também divulgar a retidão do reino
em meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos possuir deve estar nos
transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A
fé sem obras é morta” (Pacto de Lausanne, item 5)
Qual o papel “Kenótico” de Cristo
em sua missão no mundo? Filipenses 2.4-11.
O que podemos aprender do exemplo
de Jesus com a mulher samaritana (João 4.1-42)?
Que
barreiras Jesus rompeu? Quais as “estratégias” de abordagem que Jesus utilizou
diante desta mulher? Qual a diferença de postura desta mulher em relação à
Nicodemus (João 3)?
O que podemos aprender da
experiência de Paulo em Atenas (Atos 17.16-34)?
Quais
estratégias ou recursos evangelísticos Paulo utilizou em seu discurso? Ele
errou em algum momento? Em sua opinião, Paulo falhou ou foi bem sucedido em sua
passagem por Atenas?
Que distorções devem ser evitadas
na prática do evangelismo?
Proselitismo:
anunciar Jesus onde este já foi anunciado, edificando sobre fundamento alheio,
gerando concorrência entre as igrejas e deixando o foco de anunciar onde Cristo
já foi anunciado (Rm 15.20; 2. Co 10.16);
Substituir
o anúncio pela ação social e anunciar sem fazer ação social.
“Um dos equívocos da eclesiologia refere-se à sua
prática evangelística e consiste na afirmação de que ação social é
evangelização. A ênfase no Novo Testamento deixa claro que evangelização é a
proclamação das boas novas, e em hipótese alguma pode ser confundida com ação
social”... “Se por um lado a compreensão de que ação social é evangelização é
um equívoco, por outro lado, evangelização sem ação social é também um erro”
(CAETANO, Fábio Henrique. História e
Teologia da Evangelização. O autor discorre acuradamente acerca deste
assunto entre as páginas 72-81).
Evangelismo
sem igreja. O que é igreja? É a “ecclesia”, a comunidade dos discípulos, em que
o evangelho é ensinado e vivido, e os sacramentos corretamente administrados. É
a agência do Reino em que os discípulos são treinados para a missão de Deus no
mundo. O caráter da igreja é universal, para todos os povos, e pessoas de todas
as idades, e não focada somente em um segmento social.
Exploração
da necessidade alheia para promover conversões. Jesus promoveu o bem e fez
milagres independentemente da reação posterior que a pessoa fosse ter.
“...alguns
consideram a ação social um meio de evangelismo. Neste caso, evangelismo e
conversão são os objetivos principais, mas a ação social é um meio preliminar
útil e efetivo para alcançar estes objetivos. Em sua forma mais ostensiva, isto
faz do trabalho social (seja alimentação, saúde ou educação) o açúcar no
comprimido, a isca no anzol, ao mesmo tempo em que, em sua melhor forma, dá ao
evangelho uma credibilidade que de outra forma ele não teria. Em qualquer dos
casos, o cheiro de hipocrisia permeia nossa filantropia. O que nos impede a nos
engajarmos nisso é um motivo francamente dissimulado. E o resultado de fazer do
nosso programa social um meio para outro fim é que produzimos os chamados
‘cristãos cesta básica’. Isso é inevitável se nós próprios temos sido
‘evangelistas cesta básica’. Eles herdaram esta ilusão de nós. Não é de se
admirar que Gandhi tenha dito, em 1931: ‘Considero que o proselitismo
disfarçado de trabalho humanitário é, no mínimo, doentio (...). Por que eu
deveria mudar de religião devido ao fato de um médico que professa o
cristianismo como sua religião ter me curado de alguma doença?” (STOTT, John. A missão cristã no mundo moderno, p.
30).
“Um homem
faminto não tem ouvidos...” (John Taylor).
Ênfase
exagerada nos métodos em detrimento da mensagem evangelística e da graça de
Deus. O único “método” por assim dizer que Deus determinou é a pregação do
evangelho (Rm 10.14).
Culto
do “desempenho” e dos resultados, pois, como vimos, o resultado depende de Deus.
Evangelismo
sem discipulado.
“Antropocentrização”
do evangelho, mais voltado para as necessidades humanas do que para a glória de
Deus. Ex: Teologia da Prosperidade.
Falsa
dicotomia entre evangelismo e teologia.
Bibliografia
BARRO, Antônio Carlos, KOHL,
Manfred Waldemar. “Missão Integral Transformadora”. Londrina: Descoberta, 2005.
CAETANO, F. “História e
Teologia da Evangelização. São Paulo, Arte Editorial, 2010.
COSTA, Herminten Maia
Pereira da. Teologia da Evangelização.
Considerações Gramaticais (2). In http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/DIRETOR/Teologia_da_Evangelizacao__2_.pdf
acessado em 03 de agosto de 2012, às 16:48 h.
LOPES, Agustus Nicodemus. Restaurando a Teologia da Evangelização.
in
http://www.monergismo.com/textos/evangelismo/teologia_evangelizacao.htm
acessado em 03 de agosto de 2012, 17:42 h
PACTO DE LAUSANNE. “A igreja e a evangelização”. Série
Lausanne 30 anos. São Paulo: ABU Editora, 2003.
STOTT, John. A missão cristã no mundo moderno. Viçosa:
MG, Ultimato, 2010.
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