Neemias e a exploração do povo judeu
E considerei comigo mesmo no meu coração;
depois pelejei com os nobres e com os magistrados, e disse-lhes: Sois usurários
cada um para com seu irmão. E convoquei contra eles uma grande assembleia
(Neemias 5:7).
Neemias liderou o terceiro
grupo de judeus que retornou à Jerusalém, após terem sido feito cativos por
Nabucodonosor. Os anos se passaram, e, agora os reis persas estavam permitindo,
gradualmente, que os judeus voltassem e reconstruíssem sua cidade amada. O
primeiro grupo havia voltado com Zorobabel, e o segundo, com Esdras.
Ocorreram muitas dificuldades para todos eles antes de reconstruírem Jerusalém. Uma delas, enfrentada por Neemias, foi a descrita no capítulo cinco de seu livro. Os judeus pobres estavam sendo explorados pelos seus irmãos mais abastados. Primeiramente, tiveram que pedir emprestado para comer. Depois, hipotecar suas próprias propriedades, perdendo-as em seguida. Depois, estavam dando seus filhos e filhas como escravos. Os pobres se queixavam e lamentavam por sua situação.
Ante tal quadro, Neemias,
após ouvir as queixas do povo, convocou uma grande assembleia, reunindo os
nobres e os magistrados. Confrontou os exploradores, e desafiou-os a que
parassem a exploração, devolvessem as propriedades espoliadas, parassem de
escravizar os seus irmãos. Lembrou-os que a lei de Moisés proibia o que estava
acontecendo. Eles concordaram com tudo o que Neemias, governador de então,
havia proposto, foram chamados os sacerdotes, e fizeram um juramento em relação
a tal questão. Após, deixaram de explorar seus irmãos, e devolveram suas
propriedades e bens.
Algumas meditações vieram
ao meu coração após ler tal passagem.
A primeira delas é que, a
autoridade governamental precisou interferir na regulamentação econômica
daquela sociedade em favor dos mais desfavorecidos. Conforme depreendemos do
texto, houve um grupo de explorados e um grupo de exploradores. À medida que a
vida avançou em Jerusalém, um grupo se fortaleceu cada vez mais, e outro se
empobreceu. As propriedades, as rendas do grupo mais frágil foram se
transferindo para o grupo opressor. Sem a intervenção do governador, aquele
grupo enfraquecido se tornaria cada vez mais escravizado. Eu entendo que esse
texto bíblico nos autoriza a compreender que, uma sociedade economicamente
desregulamentada (entenda-se, liberal) tende a reproduzir este tipo de
situação. O Estado precisa interferir em favor do mais pobre, caso contrário,
sua situação estará reduzida a ser espoliado em seus bens, e explorado em sua
força de trabalho, tudo o que lhe restou. O economicamente desfavorecido ficará
sempre à mercê de quem o explora.
A segunda, decorrência
lógica da primeira, é que, conforme entendo, pode-se depreender analogicamente
que as Escrituras Sagradas não defendem o que conhecemos hoje por
liberalismo econômico, ou seja, a noção de que o Estado não deve
interferir na economia. Digo por analogia, pois ainda era cedo para se falar em
capitalismo naquele momento histórico, entretanto, as forças exploratórias, no
meu entender, operavam conforme uma logica capitalista. Isso não quer dizer que
não há uma liberdade econômica contemplada nas Escrituras, mas sim um cuidado
para se evitar a demasiada concentração de renda e o empobrecimento da maioria.
O ano do perdão pode ser mencionado com um exemplo legislativo da época que
visava corrigir algumas distorções. Mas a Escritura não ratifica um estado
superpoderoso que interfira até nas questões mais íntimas da vida. Daí, entendo
também que o estado não deve regular todas as questões econômicas, não
permitindo nenhuma liberdade, mas conforme já explicitado, deve corrigir as
distorções demasiadas. Daí, há a necessidade, a meu ver, de existir sempre uma
potencialidade interventiva do governo nestas questões econômicas.
Em terceiro lugar, creio
que este texto nos ensina também que a redistribuição de renda, o fim da
opressão, a não exploração do necessitado são temas sagrados explicitados
na Sagrada Escritura. Os sacerdotes foram chamados para ratificar a aliança
entre Neemias e os nobres, e foi feita a promessa, diante de Deus, que tal
exploração não voltaria a ocorrer. Estes também devem ser temas das igrejas que
se dizem cristãs, dos políticos cristãos, pois o nosso mundo é cercado de tais
coisas. Tais temas, infelizmente, fazem parte da pauta de muitos grupos que
talvez já não nutram mais nenhuma simpatia pelo cristianismo, isso talvez pelo
fato dos cristãos talvez terem abandonado, ou nunca terem aderido a tal
discurso.
Em
quarto lugar, o governo que cobra tal postura dos exploradores, tem que ter
autoridade moral para tanto. Neemias tinha autoridade, pois, conforme o texto
nos explicita, ele nunca explorou ninguém, não vivia uma vida luxuosa, e abriu
mão até de alguns direitos que os governadores da época tinham. Isto tudo, em
favor do desenvolvimento da nação. Ele era um homem de autoridade moral.
Infelizmente, muitos dos que chegam ao poder com um discurso popular, ou de justiça
social, acabam que se deixando corromper pelas riquezas, e se tornam tão ricos
quanto àqueles que queriam combater. Perdem toda a autoridade moral.
Boa tarde
ResponderExcluirachei super interessante o assunto
nunca tinha lido sobre
Qtas pessoas em todo Neemias reuniu naquela epoca
pra expor a situaçao da populaçao menos favorecida?
Oi, Helena!
ExcluirGraça e paz!
Eu precisaria revisitar o texto bíblico para saber, mas, salvo melhor juízo, não há o quantitativo destas pessoas indicado nas Escrituras!
Grande abraço!!!
Boa noite, os judeus precisavam viver no temor do Senhor, respeitando o Deus estabeleceu, não tem nada de errado com a economia mundial só desenvolver com o capitalismo, o poder do estado é que é terrível, que se meter em tudo , menos estado e mais o povo.
ResponderExcluirBom dia. Um dos aspectos do temor do Senhor era justamente fazer cumprir as leis de Moisés, dentre as quais, as leis econômicas que foram mencionadas no texto. Uma liberdade econômica restrita, sem intervenção das autoridades, estava fazendo concentrar a renda nas mãos de alguns e gerando uma grande quantidade de pessoas empobrecidas. E é isso que pode acontecer em um capitalismo desenfreado. Daí a necessidade de um Estado de bem estar social. O Estado não é necessariamente uma entidade que está contra o povo, mas pode ser sim uma expressão deste.
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