A vontade de Deus e a pandemia
Decorridos alguns meses desta pandemia, muitos de nós conhecíamos
alguém que veio a óbito por conta deste vírus.
A maioria das vítimas, provavelmente, pessoas de mais idade,
e com alguma enfermidade anterior.
Entretanto, tendo em vista a grande quantidade de vítimas,
também pudemos verificar que algumas pessoas jovens padeceram.
A tristeza é grande, independente da idade. Entretanto, é bastante chocante quando percebemos que alguém poderia ter vivido mais dez, vinte ou mais anos ao lado dos seus, e de repente, partiu. Eu acho particularmente espantoso ver que há alguns dias tais pessoas estavam com suas famílias, em suas igrejas, postando em suas redes sociais, e agora não estão mais entre nós.
Mas o que causa certa chateação, a mim ao menos, é verificar
algumas das observações que são feitas neste momento, muitas vezes com a maior
das boas intenções: “Deus o recolheu”, “Deus o tomou para si”, “Foi vontade de
Deus”, e por aí vai.
Particularmente, às vezes penso que certas espiritualidades
são mais um anestésico para aliviar nossa consciência da nossa própria
responsabilidade.
Sim, a pessoa que morreu está com Deus, certamente. Mas é uma
tragédia que ela tenha morrido. E não foi por vontade divina. Dizer do
contrário, seria colocar na conta de Deus milhares de mortes, o que não é
verdade.
As pessoas estão morrendo porque foram pegas por um vírus e
seu organismo não estava preparado. E a responsabilidade não é de Deus, e sim
de uma sociedade, que, infelizmente, não tem logrado muito êxito até aqui em
evitar que o vírus circule.
A responsabilidade talvez seja de jovens que se arriscam em
festas, baladas, sem o devido distanciamento social, e que se sentem super poderosos
(e de fato, pode-se dizer que diante deste vírus, são fortes mesmo), mas que
acabam sendo vetores de transmissão para os mais velhos.
Ou ainda, pode ser de pessoas que, por conta de sua pretensa
espiritualidade, se sintam como que blindados, achando que não pegam e não
transmitem essa doença. Ou que jogam toda a responsabilidade nas mãos de Deus,
dizendo algo do tipo “se Deus quiser que alguém pegue, vai pegar”, e coisas do
tipo.
A vontade de Deus é que cada qual ame ao seu próximo como a si mesmo, o que neste momento equivale, em meio a uma pandemia, evitar ao máximo contaminar e ser contaminado por esse vírus.
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