O reino de Cristo não é deste mundo

Não é de hoje que vemos na história a religião se envolver em assuntos do poder (e vice versa). Desde a antiguidade, religião e política são questões que andam misturadas.

O cristianismo nasceu à margem do poder. A pequena seita foi perseguida pelos poderosos dentro do judaísmo, e depois também pelo império romano. Jesus pode ser considerado um preso político/religioso.

Assim também, quando teve oportunidade, o grande cristianismo católico acabou por se tornar uma religião primeiramente aceita, e depois, oficial. Não tardou e logo os perseguidos passaram a ser perseguidores.

A Reforma Protestante não trouxe grande mudança em relação a isso. Religião e Estado continuavam sendo coisas misturadas, com a honrosa exceção aos grupos anabatistas pacifistas, que separaram, por si próprios, a igreja do estado, e pagaram com a vida por conta disso.

As guerras de religião nos levaram ao iluminismo, e finalmente a algum consenso de que para que todos vivam em certa paz em uma sociedade pluralista, o estado não deveria favorecer nenhuma religião em particular. Certo é que, em alguns países, mesmo com religião oficial, se tornaram tolerantes com o tempo, como é o caso da Inglaterra e dos países nórdicos.

No Brasil também, em seu início, religião e política se misturaram, sendo que, com a proclamação da República, tal relação se desfez. Curiosamente, no caso brasileiro, mesmo a Igreja Católica assim preferiu, tendo em vista a intromissão do imperador nas questões eclesiais.

Hoje vivemos uma democracia, em boa parte, representativa. Com o crescimento dos grupos evangélicos, é normal que tal seguimento social tenha também seus representantes, e até aqui, nada de mal. O problema é se tais representantes começarem a defender mais o interesse das suas denominações do que os do país. Se estiverem ali somente a mando de seus líderes eclesiais a fim de obter poder político, riqueza, concessões em canais de televisão. Ou ainda, quando colocam em risco a laicidade do estado.

O que penso de tudo isso?

Bem. Fico um pouco triste quando tais homens fazem tudo isso supostamente em nome de Deus, do evangelho, de Jesus. Quando usam suas igrejas para conseguirem votos. Creio que Jesus não faria isso. Se algum pastor quiser se tornar político, deveria, a meu ver, abandonar o pastorado. Deveria seguir uma carreira política normal, em algum partido político, mas não construir sua fama e campanha junto às igrejas. Deve lutar pelo direito dos órfãos, das viúvas, dos mais fracos e fragilizados na sociedade. Se estiver atrás do poder pelo poder, nada faz de diferente que os filhos deste mundo. Aliás, se Jesus disse que seu reino não é desse mundo, porque aqueles que dizem segui-lo querem ter tanto poder?



Pastores e a política
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