O martírio de um profeta
“E,
enviando logo o executor, mandou que lhe trouxessem a cabeça de João. Ele foi e
o decapitou no cárcere” (Marcos 6.27).
João Batista era um profeta,
anunciado no antigo testamento como aquele que prepararia o caminho do
Senhor (vide Isaías 40.3 e Malaquias 3.1).
Nascido de uma família
sacerdotal, foi no deserto que desenvolveu seu ministério. Após repreender
Herodes por estar em um relacionamento conjugal ilícito, foi preso e
encarcerado.
Herodias, um tipo de Jezabel, o
odiava. Mas não podia mata-lo, pois o seu “marido”, ainda que perverso, nutria
algum tipo de simpatia para com João, e o escutava de boa mente. Entretanto,
por conta de uma palavra mal pensada de Herodes, aquela mulher teve sua tão
aguardada chance.
O tetrarca da Galileia deu uma
festa em comemoração ao seu aniversário. Chamou seus convivas. Houve um
banquete. A filha de Herodias, que Flávio Josefo nos diz ser Salomé, realizou
uma dança erótica que muito agradou o aniversariante. Herodes impensadamente
faz uma promessa, e Salomé, orientada por sua mãe, pede a cabeça de João
Batista em um prato. Herodes, por conta da promessa que fez, cumpre sua palavra
e assassina João.
A cabeça do justo foi servida em
um prato no banquete dos poderosos.
O que aprendemos com este relato?
Primeiramente, que precisamos
deixar de lado uma certa religião popular de causa e efeito. Muitos pastores
estão ensinando hoje em dia que se a pessoa cumprir determinados mandamentos e
obedecer a determinados princípios, nada de mal lhe irá ocorrer, e sempre irá
prosperar. Nada mais distante da verdade.
João Batista era cheio do Espírito
Santo no ventre de sua mãe (Lc 1.15). Foi fiel ao seu ministério como profeta.
Jesus chegou a dizer que dentre os nascidos de mulher, ninguém foi tão grande
quanto ele (Mt 11.11). E ainda assim, teve um final que, humanamente falando,
ninguém gostaria de ter. Morreu decapitado em uma fétida prisão, por conta da
dança erótica de uma moça manipulada por sua maligna mãe, bem como pela palavra
impensada de um rei maligno. E este também foi o fim de muitos profetas que
defenderam a verdade diante dos poderes deste mundo, como Isaías, Jeremias,
Ezequiel. Elias também foi muito perseguido por Acabe e Jezabel. Também o nosso
Senhor, e Tiago, Estevão, os demais apóstolos, Policarpo, Irineu, entre tantos
outros mártires.
Em segundo lugar, aprendemos que
todos aqueles que quiserem viver piamente em Cristo Jesus padecerão
perseguições (2 Tim 3.12). Sempre nos alegramos pelo fato de termos uma liberdade de
religião que não há em outros países. Entretanto, pequenos focos de perseguição
podem ser vistos aqui e acolá, quando alguém defende sua fé no ambiente
escolar, familiar, entre os amigos ou em outras ocasiões. Além do que, a
ausência de perseguição deve sempre ser um alerta no sentido de nos
perguntarmos se realmente estamos vivendo piamente a Cristo Jesus.
Em terceiro lugar, a história de
João Batista é um alerta de que sempre devemos procurar nos lembrar daqueles
que padecem perseguições e sofrem maus tratos (Hebreus 13.3). Precisamos nos
lembrar dos que sofrem nas mãos de militantes islâmicos fanáticos, como os do
ISIS ou do Boko Haram. Também temos que nos lembrar dos que padecem na Coreia
do Norte e outros países que não permitem a livre difusão do evangelho. Temos que
estar ao lado de todos os que padecem injustiças e perseguições em todos os
lugares, independente de suas religiões. Podemos orar, contribuir ou mesmo ir
até tais localidades.
E finalmente, a história de João
Batista deve ser sempre um desafio ao autoexame. Temos que nos perguntar: e se
fosse conosco? Permaneceríamos fiéis se fôssemos ameaçados com a morte? Precisamos
fazer este autoexame, e ter sempre a morte diante de nossos olhos.
Podemos nos consolar e alegrar
com as palavras do nosso mestre, de que, bem aventurados os perseguidos por
causa da justiça, porque deles é o reino dos céus (Mateus 5.10-12). Que sobre
os perseguidos por amor a Cristo repousa o Espírito da glória de Deus (Hebreus
11.35). Que a última palavra vem sempre do Senhor, e que os santos mártires de
Deus, que passaram por um verdadeiro batismo de sangue, se alegrarão à mesa com
Abrãao, Isaque, Jacó, os apóstolos, e todos os amados de Deus. Que o Senhor nos
ajude a permanecermos fiéis ao nosso chamado.
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