Motivos bíblicos para estarmos em uma igreja - As campanhas de oração


Segundo as estatísticas do senso do IBGE realizado em 2010, mais de 9 milhões de pessoas que se declararam evangélicas não estão frequentando regularmente nenhuma igreja.

Tendo em vista que o mesmo senso apurou que os evangélicos são perto de 42 milhões, isso significa que quase uma a cada cinco pessoas que assim se declara está sem igreja (os chamados “desigrejados”).

Assim sendo, muitas igrejas passam a utilizar diversas estratégias, seja para atrair o público, ou mesmo para manter as pessoas em suas denominações.
Uma destas estratégias são as assim denominadas “campanhas”.

Cuida-se de um evento que procura manter o fiel por intermédio de algum compromisso assumido. Pode ser um determinado número de dias (por exemplo, sete sextas feiras). As vezes, incentiva-se algum tipo de oferta especial, compra de algum objeto, ou coisa do tipo. Muitas vezes, nestas campanhas há um foco especial (casamento, vitória financeira, compra da casa, cura, empresa, etc).

Existe fundamento bíblico para as campanhas?

Geralmente, elas são baseadas em algum texto do antigo testamento, como as sete voltas que foram dadas pelos israelitas em torno da cidade de Jericó. Ou fazem alguma miniatura de um símbolo (uma chave, arca da aliança, um tijolinho, uma rosa, toalhinha, etc). Vai variar de acordo com a criatividade de cada igreja.

Entretanto, creio que estas passagens bíblicas são tiradas do seu contexto. Não vi as chamadas “campanhas” por parte de Jesus, dos apóstolos, ou mesmo na igreja antiga. Talvez o mais perto que tenhamos disso nas Escrituras seja algo em torno de “fazer um voto”, ou mais próximo a nós, no catolicismo, temos a ideia de “pagar uma promessa”.

Estas campanhas costumam dar certo para os seus participantes?

Sempre assistimos as igrejas midiáticas que as produzem demonstrar que sim, que dá certo para muitas pessoas. Não é raro ver pessoas dizerem que participaram de determinadas campanhas e que alcançaram  a sua “vitória”.

Porém, eu desconfio que não dão certo para todos. Não tenho dados oficiais, mas creio que podem funcionar para dois ou três por cento de seus participantes. Em uma igreja com dez mil pessoas, isso já significaria dar certo para umas duzentas a trezentas pessoas. Já seria bastante gente para testemunhar, contar seu milagre, mas sobraria ainda nove mil e oitocentas pessoas que não teriam recebido o seu milagre, e que terão que esperar a próxima. Mas o fiel pagou algo para estar ali, nem que seja uma oferta especial. Ou seja, a igreja já levantou um bocado de dinheiro. E convenhamos, não há um rigor investigativo caso a caso para ver se realmente se tratou de um milagre, no sentido de algo sobrenatural.

Muitos pastores, armados contra eventuais reclamações jogam a culpa no fiel, dizendo que ele não teve fé suficiente. Alguns participantes destas campanhas (raros, é verdade) até processam tais igrejas.

Há algo de positivo nestas campanhas?

Talvez sim, no que se refere ao foco na fé, na oração, na disciplina do fiel em buscar algo específico. Alguns fazem campanha para ser livrar das drogas, ou em favor de algum parente. Isso certamente tem o seu valor. Mas há problemas na vida que nem sempre podem ser resolvidos em uma campanha. Tem coisas que demandam uma vida inteira de oração.

O risco destas campanhas é produzir um tipo de cristianismo egoísta em que a pessoa usa da religião somente para satisfazer suas necessidades. Igrejas assim correm o risco de não se tornarem uma comunidade, mas um evento do qual se participa, algo que se assiste. Um tipo de “balcão da fé”, em que a pessoa “paga” para receber determinado serviço. Há pastores que dizem que se não fizerem campanhas, o fiel não vai para a igreja.

Eu, particularmente, embora reconheça o valor da oração, e talvez mesmo de algumas campanhas, não incentivo ninguém as usar como método de crescimento ou manutenção do fiel da igreja. 

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