Resenha da obra "Ego Transformado", de Tim Keller

KELLER, Tim. "Ego Transformado"  Tradução de Eulála Pacheco Kregness. São Paulo: Vida Nova, 2014.

Tim Keller é pastor, fundador da Igreja Presbiteriana do Redentor, em Nova Iorque, escritor e apologista.

Na introdução desta obra, Tim Keller narra as discussões na igreja de Corinto em que cada grupo dizia se identificar em torno de um líder. Tais motivações eram o orgulho e a vanglória.

Menciona que tradicionalmente se creditava à auto-estima o fundamento de muitas atitudes ruins, mas que modernamente, se pensa justamente ao contrário: é a baixa-auto estima que gera más ações. De qualquer modo, o autor ressalta que o apóstolo Paulo irá demonstrar uma forma diferente de entender estas questões.

No capítulo primeiro, discutindo o texto de 1 Co 4.6, menciona que Paulo havia exortado os seus leitores a "não se orgulharem de uma pessoa em detrimento de outra", sustentando que o apóstolo quer ensinar aos seus leitores algo acerca do ego humano, mencionando que o termo"orgulho" indica algo inchado, além do tamanho normal. Tal metáfora indica que o ego humano é vazio, dolorido, atarefado e frágil.

Colocar algo em nosso interior que não seja Deus dá uma demonstração do nosso vazio. Sentirmos o ego constantemente dolorido é uma demonstração de que há realmente algo muito errado com ele (não sentimos a dor em qualquer membro humano que esteja saudável).  O ego é muito atarefado, pois faz de tudo para ser notado, sempre se comparando com outras pessoas. Com base nestas três características, Keller ensina ainda que o ego é frágil, pois está sempre a ponto de "estourar" e se murchou, é porque já foi inchado um dia.

No capítulo 2, tendo ainda por base o texto de 1 Co 4.1-4, a argumentação é no sentido de que o apóstolo Paulo não se importava em ser julgado, seja pela igreja, seja por um tribunal humano, ou seja por si próprio. E que mesmo tendo a consciência de que era o maior de todos os pecadores (1 Tim 1.15), tinha uma autoconfiança suficiente para ter se tornado um dos maiores líderes que a humanidade já conheceu. O grande segredo de Paulo, por assim dizer, era o seu auto esquecimento, alguém cujo ego não fazia mais questão de "aparecer". Não se sentia ferido ao ser duramente criticado, não se sentia exaltado por ter feito algo grandioso. Esta é o que Keller chama de humildade evangélica. 

Keller completa seu raciocínio do capítulo 3, procurando ensinar como podemos chegar ao mesmo estágio que o apóstolo. Retorna a ideia de que Paulo não se importa com o que os outros pensam dele, nem mesmo com o que ele pensa de si próprio, pois o julgamento já foi realizado em Cristo Jesus. No cristianismo, ao contrário do que acontece na vida de modo geral, e mesmo em outras religiões, o desempenho leva ao veredicto, enquanto que no evangelho, é o veredicto que leva ao desempenho. Ou seja, Deus nos aceita, nos perdoa em Cristo Jesus. Assim sendo, estamos livres para fazer algo, não em troca de reconhecimento ou de aceitação, mas somente pela alegria de realizar. Tim Keller ressaltar para que o que nunca ouvira tal mensagem procure se aprofundar mais no evangelho. E para os cristãos que constantemente voltam ao tribunal de julgamento, que revivam o evangelho em cada ato.

Algo de muito bacana nesta obra é que Keller aplica a doutrina da justificação pela fé em uma dimensão bastante social e psicológica. Talvez possamos dizer existencial. A justificação pela fé a base pela qual eu não me permito ser derrubado pelas críticas alheias, nem mesmo pelas minhas próprias auto avaliações. Isso porque, em Cristo já fomos perdoados e aceitos. E isso tem como resultado uma paz em nossos corações, que não depende da aprovação alheia. E assim somos livres para fazer o que fazemos por amor, e não por algum outro tipo de reconhecimento ou aprovação alheia.


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