Diálogo de um cristão com um ateu

O diálogo abaixo espelha com relativa exatidão um diálogo que tive com um amigo ateu, algum tempo atrás:

ATEU: Eu acreditaria em Deus caso Ele aparecesse e dissesse: “olha eu aqui, eu existo!”

CRISTÃO: Aparecesse... Como assim?

ATEU: Sei lá; abrisse um buraco no céu, viesse um “rostão”, uma “mãozona”, e dissesse “Eu sou Deus, eu criei vocês!

CRISTÃO: Mano. Acho que você está com saudades daquelas séries “ultraman”, “ultraseven”, ou coisa do tipo...


ATEU: Não, é sério cara. Tinha que ter uma prova empírica, real da presença dele para eu acreditar.

CRISTÃO: Cara. Eu acho que se aparecesse um gigante do céu, dizendo que é Deus.... Pensa bem. Você não iria acreditar. Rapidamente, seu ceticismo iria criar outras hipóteses, etc; e você duvidaria que seria Deus. Poderia ser um extraterrestre, um truque de luzes, etc.

ATEU: É verdade, cara! Você tem razão. Eu duvidaria mesmo.

CRISTÃO: Eu, particularmente, acho difícil que seja possível uma prova empírica de “Deus em Si”, pois, se consigo provar algo empiricamente, significa que este algo está de algum modo sujeito à minha manipulação, estando na mesma esfera de existência que eu. Portanto, creio não poder, por estes modos, provar a existência de Deus. Neste sentido, eu concordo com você. DEUS NÃO EXISTE.

ATEU: Hã?!!! Para um cristão evangélico, você tem idéias muito doidas.

CRISTÃO: É verdade, mano. Deus não existe em nosso plano de existência a ponto de poder ser provado empiricamente. Deus está “para além” da existência; é o Criador da própria existência. Então, de certa forma, concordamos quando você diz que Deus não existe. Entretanto, eu vejo a necessidade do que chamamos Criador, Deus, etc; e você, em princípio, nega tal necessidade.

ATEU: Sim; nego porque não há prova.

CRISTÃO: Talvez as provas estejam por aí. Talvez estejam em nós mesmos. Talvez sejam racionais, não empíricas. Mas provas empíricas, do modo como coloquei, não são possíveis de serem obtidas.

ATEU: Então, se não há provas, obviamente, não sou obrigado a crer.

CRISTÃO: Certamente, não é obrigado a crer. É uma questão de fé.

ATEU: E tua fé é cega, pois não necessita de provas para crer.

CRISTÃO: Não necessito de provas empíricas, conforme dizemos, mas é uma fé, que entendo ser razoável.

ATEU: E porque?

CRISTÃO: Muito já se discutiu a respeito deste assunto, em diversas obras filosóficas e teológicas, como as de Tomás de Aquino e René Descartes, entre muitos outros. Fato é que, neste universo, nada surge do nada, tudo tem uma causa primeira, uma causa anterior que por sua vez foi causada por outra anterior.

ATEU: E?..

CRISTÃO: E isto significa que a tese de que tudo surgiu por acaso sem a necessidade de intervenção de nenhuma espécie também é algo que não se pode verificar empiricamente em lugar nenhum. Ou seja, sua “crença” também não é empírica; também não é científica.

ATEU: Isso é verdade. Entretanto, se eu não sei de algo, não fico inventando respostas; e as religiões, a meu ver, são invenções.

CRISTÃO: Podem até ser invenções. Entretanto, se levarmos como verdadeira a tese de que, se há um Criador, ele está “para lá” da existência, significa que só podemos conhecê-lo se ele permitir-se ser conhecido, concorda?

ATEU: Não poderia ser de outra forma, se levarmos a sério seu raciocínio.

CRISTÃO: É isso. Daí, acreditamos no conceito de revelação, ou seja, de que seria impossível conhecer o Criador se Ele não se revelasse à humanidade, pois Ele, sendo o que é, não se confunde com a criação.

ATEU: Como assim?

CRISTÃO: Ora, como disse C. S. Lewis. Se construo uma casa, eu não me confundo com a casa construída. Você pode até conhecer algumas características minhas pela casa que construí, mas você não me conhecerá plenamente se eu não me apresentar à você.

ATEU: E obviamente, você vai dizer que a tal revelação se dá pela sua  religião, e não pelas demais. Vocês são muito arrogantes mesmo. É isso que eu detesto nos evangélicos. Seria um budista, mas jamais um cristão.

CRISTÃOS: Entendo sua indignação, amigo. Mas é que, no cristianismo, e na história mundial, Jesus foi o único que disse que era a revelação deste Deus invisível, segundo os evangelistas. Ele foi o único que disse: “quem viu a mim, viu a Deus”.

ATEU: Então ele era um louco arrogante também.

CRISTÃO: Este é exatamente o ponto. Ou ele era um completo doido varrido, ou ele é quem diz verdadeiramente ser. Isso, C. S. Lewis também falou.

ATEU: Então porque não considerá-lo um louco varrido, ao invés de um sábio, ou algo do tipo?

CRISTÃO: Por aquilo que viveu, por aquilo que ensinou. Acho muito difícil, mesmo pessoas que não tenham religião nenhuma não admirarem este Jesus, que nós chamamos de Cristo.

ATEU: Eu o admiro, embora não creia nas questões sobrenaturais relatadas nos evangelhos.

CRISTÃO: Entendo.

ATEU: E se ficasse provado, como eu acredito, caro amigo, que nada destas coisas sobrenaturais existissem você continuaria cristão?

CRISTÃO: Sim.

ATEU: E porque?

CRISTÃO: Porque a pessoa de Cristo e seus ensinamentos são tão atraentes, e seu projeto para a humanidade, tão arrebatador, e no meu sentir, tão irrefutáveis, que eu continuaria irremediavelmente cristão. Veja a vida que ele viveu, as coisas que ensinou, o amor ao próximo, a não vingança, etc. Se todos vivêssemos aquilo que ele determinou, é impossível não se chegar à constatação de que o mundo seria um lugar bem melhor.

ATEU: Seria o céu na terra!

CRISTÃO: Pode crer! É isso mesmo!

ATEU: Mas aí seria necessário uma raça de deuses. Ninguém vive o que ele manda viver. Nem sei se ele viveu realmente...

CRISTÃO: Aí é que está, meu caro. Quando apesar de saber que o que ele diz é certo, mas não consigo viver, vejo que há algo errado em mim, algo que, precisa de “conserto”, por assim dizer.

ATEU: Como assim?

CRISTÃO: Ninguém vive exatamente o que diz acreditar. Por exemplo. Se você pudesse escrever em um papel tudo o que acredita ser certo e que deveria ser feito, e, no final da vida, analisar-se à luz do que escreveu, você se veria deficiente em muitos pontos. Assim também um marxista, um budista, um islâmico. Todos se sentem em débito por não viverem plenamente o que acreditam ser o certo.

ATEU: Mas e se eu não acreditar existir certo ou errado?

CRISTÃO: Mas é possível viver sem acreditar em certo ou errado na prática? Fazer o que se quer, quando quiser, etc?

ATEU: Obviamente, não. Mas isso pode ser socialmente convencionado.

CRISTÃO: Concordo. Mas ao menos, o reconhecimento da necessidade de uma convenção para a vida social é necessária, não é mesmo?

ATEU: Isto, sem dúvida.

CRISTÃO: E isto, porque os seres humanos não vivem voluntariamente aquilo que são forçados a viver por convenção, não é?

ATEU: Sim, precisamos das leis por isso.

CRISTÃO: É por isso que eu disse que, em certo sentido, precisamos de “conserto”, pois observando a humanidade como um todo, em todo o tempo, ela não viveu o que sabia que deveria, sem as ditas convenções.

ATEU: E, obviamente, você acha que o cristianismo é o conserto para isso, né?

CRISTÃO: O cristianismo não; mas Cristo sim... Cremos que ele assumiu a nossa injustiça para que nos desse a sua justiça...

ATEU: Bom... sobre isso, conversamos depois. A hora do almoço já acabou. Estamos atrasados.

Comentários

  1. Muito interessante discussão. Sou ateu e achei o comentário do Cristão em questão mais sensato e menos acusador.

    Parabens.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado por ter lido o meu texto, amigo. Não me vejo em condições de acusar ninguém por suas crenças (ou ausência delas). Carlos Seino.

    ResponderExcluir
  3. parabens que DEUS continue te iluminando com sabedoria e graça, pois vejo no sr á simplicidade no ensinar com maestria,sou grato pela sua vida ( ev valdir)

    ResponderExcluir
  4. Obrigado, amigo! Que o Senhor nos dê graça para continuar semeando a sua palavra! (Carlos Seino)

    ResponderExcluir
  5. Olha amigo, parabéns. Engraçado que eu tive uma conversa com uma amiga e o tom da nossa conversa foi exatamente assim. Lembrei muito dos argumentos levantados e a troca de informações que de longe eram questionamentos e sim um compartilhar. Sou ateu convicto, mas agora creio em Deus, digo melhor... O sinto. Quando falo isso para as pessoas, elas não entendem. Mas é bem assim. Não é preciso entender, sentir já basta.

    Parabéns pela bela visão!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, João Rodrigues! Obrigado por participar. De fato, o sentimento realmente é uma dimensão muito importante, principalmente quando se trata de algo que estamos muito longe de compreender. De certa forma, foi o sentimento que me levou também á fé e à esperança. Um grande abraço!!!

      Excluir
  6. Simples assim...
    Porque a pessoa de Cristo e seus ensinamentos são tão atraentes, e seu projeto para a humanidade, tão arrebatador, e no meu sentir, tão irrefutáveis, que eu continuaria irremediavelmente cristão.

    ResponderExcluir
  7. Muito bom esse diálogo entre um Atu e um Cristão. Sou Ateu . Eu concordo que os conselhos de Jesus ( segundo a Teologia) “ Amais uns aos outros… é de fato bom. Tipo não faça ao outro aquilo que você não quer que faça a você. Gostei. O mesmo não aconteceu comigo.Tocava num grupo ecumênico até que um dia eu publiquei algo que pareceu ser uma ofensa muito grande e uma Senhora me disse que o meu lugar não era alí. Fiquei muito triste pela intolerância dela e me afastei.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado por ler, meu amigo. Com certeza, neste grupo, havia outras pessoas que te queriam por perto! Se amarmos uns aos outros, cumpriremos a lei de Cristo, mesmo se nossas crenças não forem as mesmas.

      Excluir

Postar um comentário

Mais visitadas da semana

Aprendendo com os erros do Rei Amazias

Resenha da obra "Ego Transformado", de Tim Keller

E não endureçais os vossos corações (Hebreus 3.7-13)

Manaém, o colaço de Herodes

Lidando com a traição e as injustiças da vida - o exemplo de José do Egito

O amor não é sentimento, é mandamento

Amar como Cristo amou

O crente egoísta

TEOLOGIA: CONCEITOS E TIPOS

A triste história do Rei Asa