Ternura e Firmeza - Meditações sobre John Wolmann





“Minha mente é levada a considerar a pureza do Ser Divino e a justiça do seu juízo, e aqui minha alma se cobre de horror. Muitos escravos deste continente são oprimidos, e seus clamores chegaram aos ouvidos do Altíssimo. Tal é a pureza e a certeza dos seus juízos que ele não pode ser parcial em nosso favor. Em infinito amor e bondade, ele abriu nosso entendimento de uma vez por todas quanto à nossa responsabilidade para com esse povo; e não é hora de protelação”




Ele nasceu em 17 de outubro de 1720.

Desde criança, dizia sentir os movimentos do Espírito em si. Desde cedo, aprendeu a viver de acordo com os divinos impulsos da divindade em sua alma.

Trabalhou desde a adolescência. Aprendeu a ser comerciante e a redigir documentos legais. Documentos de cessão, de compra, de doação, até mesmo de herança.

Recebeu a ordem de redigir um documento de cessão de um escravo. Aquilo lhe abalou profundamente. Confrontou seu patrão, dizendo que não era digno de um cristão realizar uma obra daquela! “Todos somos a imagem de um mesmo Deus!”

Queria pregar a palavra de Deus. Viva do comércio, mas reduziu suas atividades para ter mais tempo disponível para a oração, para a pregação itinerante!

Pregava o evangelho da reconciliação, do amor, de Deus para com os seres humanos, e destes entre si!

Logo, o foco de sua pregação se tornou o fim da escravidão. Fez disso a cruzada de sua vida, de Norte a Sul dos EUA.

Convenceu pessoalmente muitos senhores de escravos a abandonarem tal prática.

Recusava-se em vender, em seu comércio, qualquer material que tivesse relação com o trabalho escravo, como o açúcar, por exemplo; e também não fazia uso pessoal destas coisas. Ocioso dizer que isto redundava em diminuição dos lucros terrenos, mas certamente, não dos celestiais!

Chegava a pagar os escravos que lhe prestavam algum serviço, na casa em que estava hospedado, para ofensa de seus anfitriões.

Recusou o convite de se hospedar na casa de pessoas que tivessem escravos, principalmente quando membros de alguma igreja; e tal recusa chegou a marcar tão profundamente algumas pessoas, que estas, no dia seguinte à recusa, libertavam os escravos. Estar contra tal homem deveria dar a nítida sensação de se estar ofendendo a Deus!

Em suas homilias, atacava poderosamente a instituição da escravidão.

“Deus visitará com juízo os que continuarem tão odiosa prática!”

Em 1754, ele publicou “Algumas considerações sobre a posse de negros: recomendadas aos professores de cristianismo de todas as denominações”. Argumentou com mansidão, mas firmeza e veemência de que o fim da escravidão era uma obrigação cristã.

Seus escritos influenciaram os quakers tanto dos EUA como da Inglaterra, e vários dos adeptos de tal irmandade voluntariamente iam libertando os que estavam ao seu serviço.

No encontro anual da Filadélfia de 1758, os quakers decidiram expurgar toda a escravidão do meio deles, depois de um discurso emocionado deste grande homem de Deus

Os quakers sofreram agressões de todos os tipos, e mesmo perseguições institucionais, leis injustas, etc, depois que começaram a libertar os escravos. Havia leis que dificultavam, em muito, a libertação dos escravos.

Encontraram uma brecha jurídica para que, a própria Sociedade dos Amigos recebesse, em doação, os escravos libertos, para que estes, não obstante não terem o status jurídico de cidadãos livres, pudessem ter a dignidade dos tais. Compravam escravos para libertá-los!

Os quakers, quase a unanimidade, livraram-se da escravidão quando da própria proclamação da independência norte-americana.

Segundo Richard Foster, em “Rios de Água Viva”, os tais foram o único grupo religioso que exortou aos donos de escravos que, não somente estes fossem libertos; porem, também indenizados! Posteriormente, os políticos fizeram leis para indenizar os donos de escravos após a abolição da escravatura; os quakers, pelo contrário, corretamente vislumbraram que eram os negros que tinham que ser indenizados!

Muitos destes amigos tiveram enormes prejuízos, indo, inclusive, à falência, tendo que se colocar a serviço de outras pessoas.

Enfim, estamos falando de alguém que não tratou da mudança social de forma somente distante, mas envolveu-se pessoalmente naquilo que acreditava. De forma pacífica, porém firme, corajosa, e destemida, lutou por fazer prevalecer os valores do evangelho na sociedade em que vivia.

Seja viva para sempre a memória de John Woolman!


Sugestão de leitura: Rios de Água Viva, de Richard Foster, Editora Vida, de onde me inspirei para escrever este artigo.

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