O cristão e a política

Política e religião

Eis aí uma pergunta muito difícil para ser respondida em somente uma breve postagem: qual deve ser o envolvimento de um cristão com a política? Vamos tentar pelo menos elucidar a questão de maneira simples para, talvez, em outra oportunidade, pensar mais a respeito do tema.

Pensemos em pelo menos duas posições extremas.

A primeira diz respeito a que todas as coisas devem ser feitas para a glória de Deus, em todas as esferas da vida, inclusive a política. Tudo deve ser conquistado para Deus. Tem sido esta a posição da chamada cristandade durante os séculos, seja católica ou protestante. Um governo cristão, em um estado cristão, é o ideal, segundo tal ponto de vista. Estado e Igreja, embora entidades diferentes, estão unidas no mesmo propósito, que é glorificar a Deus. Católicos romanos, calvinistas, luteranos viveram esta forma de cristianismo por algum tempo, conhecido também como sistema constantiniano (por conta do Imperador Constantino, que legalizou o cristianismo e abriu caminho para que fosse reconhecido como religião oficial em Roma). Alguns entendem que este é o caminho a ser seguido pelos cristãos. Há tradicionalistas que sonham com a restauração de uma monarquia católica ou ortodoxa. Outros sonham com uma república protestante, enfim. Muitos que os que assim pensam são considerados fundamentalistas. Temos pessoas assim no nosso congresso nacional, inclusive, com a proposta de que seja alterado o artigo da constituição de que "todo poder vem do povo" para "todo poder vem de Deus". Para você ver que não é brincadeira, leia aqui.

O outro posicionamento vai no sentido de dizer que a igreja é um ente completamente separado do estado, e que o cristão não deve se envolver em política temporal, pois "o reino de Cristo não é deste mundo". Um dos grupos que mais bateu nesta tecla foram o chamados "anabatistas". Eles entendiam que o poder secular não era o poder da igreja, que o evangelho não pode ser imposto. Havia até uma famosa frase: "deixem o mundo ser mundo e a igreja ser igreja". Discordavam que um bom governante necessariamente deveria ser cristão. É melhor que não seja. Entendiam que a igreja era uma comunidade voluntária de crentes, por isso só batizavam adultos. O único poder da igreja deveria ser o da persuasão e de uma vida convincente. Os anabatistas foram um dos grupos religiosos mais perseguidos da história. Hoje, muitos diriam que os tais cristãos são alienados. Este tipo de pensamento também levou ao "anarquismo cristão".

Entre estas duas posturas extremas há uma série de posicionamentos. Uma delas é que o cristão, enquanto indivíduo, pode sim se sentir vocacionado para uma vida política, e que lá será o espaço em que ele deve ser sal e luz. Entretanto, ele não estará lá para defender os interesses das igrejas. Estará lá para defender valores éticos, o direito dos mais pobres, o combate à corrupção, os direitos fundamentais de todos os cidadãos (inclusive o de liberdade religiosa), tudo conforme o evangelho (mas sem se  esquecer que o estado é laico, e isso é uma conquista muito importante da humanidade). Claro que neste meio caminho haverá muitas discordâncias até mesmo para com seus irmãos que também se encontrarem na política. Há os que serão contrários à descriminalização do aborto, pois entendem que devem preservar a vida do feto. Outros, que são a favor de outro tipo de tratamento, levando em consideração os interesses da mulher. Há os que serão favoráveis a uma maior intervenção do estado, para que este, por meio de impostos, arrecade e distribua aos mais necessitados, ou às minorias, via ações afirmativas. Outros entenderão que o estado deve ser mínimo, e que, estimulando a atividade econômica, estar-se-á indiretamente ajudando ainda mais os mais carentes.

Enfim, não é muito fácil definir qual deve ser o posicionamento cristão em política. De esquerda? De direita? Monarquista? Anarquista? Um posicionamento sempre se terá (ainda que seja o de não se envolver). O importante é estar bem seguro em sua própria consciência e fazer o que entender ser mais digno do evangelho em sua situação.

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