Nem legalismo, nem antinominianismo


"Digo, porém: "Andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne" (Gálatas 5.16).


Paulo, conforme já dissemos por aqui, foi talvez o primeiro e maior defensor da doutrina da graça de Deus e da justificação pela fé. Ensinou claramente seus leitores a confiarem única e exclusivamente em Cristo para a salvação. Isto porque, talvez a primeira tentação humana no nível religioso seja justamente a de tentar criar algum sistema de automerecimento para alcançar sua própria salvação, seus próprios méritos diante de Deus.

Entretanto, há um outro risco.

O risco de se chegar á falsa conclusão de que, já que a salvação é pela graça, e que as obras não salvam, e já que somos libertos em Cristo, podemos viver de acordo do modo como quisermos, sem observância de nenhum ditame moral ou ético para a nossa existência.

Os dois erros são tremendamente terríveis, e destroem o evangelho.

O primeiro porque afasta a graça de Deus dizendo que Cristo é insuficiente, criando-se um sistema júridico-teológico que escraviza os homens.

O segundo porque repudia na prática a graça de Deus, pois recusa-se à conversão e o agir desta mesma graça na transformação do ser, dando pouca importância ao sacrifício de Cristo. Ambos os erros devem ser veementemente evitados e combatidos pela igreja cristã.

Os leitores de Paulo, caso o lessem pela metade, poderiam entender que ele fosse destes que pregam uma graça barata. Poderiam entender que "já que sou salvo pela graça, vou viver do jeito que eu quiser". Por isso, o apóstolo, em seus escritos, sempre ressaltava que, se fomos salvos do pecado, como poderemos ainda viver nele, já que "daquele a que nos oferecemos como servos para obediência, deste mesmo que obedecemos somos servos, seja do pecado para a morte ou da obediência para a justiça" (Rom 6.16). Ou seja, se somos salvos por Cristo dos pecados, não podemos mais andar neles como dantes fazíamos.

Por isso, o apóstolo, sempre após expor a doutrina da salvação pela graça por meio da fé, a doutrina da justificação pela fé em Cristo, ensinava o lado prático de tal constatação, qual seja, a de que devemos expressar completamente a transformação da vida que esta mesma graça em nós opera, rejeitando todas aquelas coisa que dantes nos afastavam de Deus.

"Já não sou em quem vive, mas Cristo vive em mim, e esta vida que vivo agora na carne, vivo-a pela fé no Filho de Deus, que morreu e entregou-se a si mesmo por mim".


Soli Deo Gloria

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